Ficha técnica
Título – A
casa das bengalas
Autor – António Mota
Editora – Gailivro
Páginas – 164
Data de leitura – de 21 a 22 de outubro de 2017
Opinião
A
última obra que li de António Mota – Pedro
Alecrim – conduziu-me a uma entrevista dada pelo autor a alunos de uma
escola qualquer deste nosso país. Li-a com bastante interesse e fiquei em
pulgas quando o autor referiu que a obra que o havia feito ir às lágrimas havia
sido A casa das bengalas, que
havia escrito as suas últimas páginas com os olhos marejados. É claro que não
perdi tempo em tentar saber de que tratava a narrativa em questão e quando
constatei que se centrava na solidão dos idosos, tratei logo de ver se a
biblioteca da terrinha o tinha. E tinha-o, para minha grande alegria!
Por
isso, na semana passada trouxe-o comigo e devorei-o praticamente todo numa
manhã onde a leitura andou de mão dada com o desporto. A personagem principal é
o avô Henrique que viveu a sua já longa vida numa aldeia perdida do interior do
país. Vive sozinho na sua casinha e sempre cuidou de si próprio com brio e
aprumo, mas agora que a saúde começa a pregar-lhe recorrentes partidas tem que
obedecer à sua filha e fechar a porta da sua casinha, abandonar os seus
pertences, deixar para trás tudo o que até então orientou os seus dias e passar
uma temporada no apartamento da filha e posteriormente resignar-se a partilhar
quarto com outro ancião num lar de terceira idade.
A obra
é de 1995, mas o tema continua a ser muito pertinente. Cada vez mais. Os velhos
que são vistos como velhos, como indesejados, como incómodos, como ocupadores
de espaço e de tempo. Os velhos que se tenta despachar a qualquer custo para
que definhem e sejam apenas um corpo enfezado, abatido numa cadeira ou numa
cama qualquer, sem lampejo de calor ou vida. Os velhos que ninguém quer. Os
velhos de que tenho tantas, mas tantas saudades e que tanto, mas tanto queria
de novo comigo.
O avô
Henrique abriu a ferida que nunca vai fechar, porém abriu-a com uma mistura de
lágrimas e de sorrisos. Regressei aos meus tempos de adolescente, aos dias
passados ao ar livre entre árvores de fruta, videiras, batatais, abóboras,
milheiral, animais à solta; aos almoços e jantares na cozinha dos meus avós,
divisão de construção tosca, mobilada com peças desconjuntadas e decorada com o
indispensável calendário “que tem que ter as luas, que tem que ter as luas”.
Voltei a sentir os meus velhinhos junto a mim graças aos diálogos carregados de
sabedoria e experiência entre o avô Henrique e o seu neto Tião e a todo o
carinho disfarçado de rudeza e pragmatismo que os envolvia sempre que estavam
juntos.
Foi
assim uma leitura muito emocional, muito pessoal. Foi mais uma prova (como se
ainda precisasse de provas) do quanto a literatura infanto-juvenil me faz bem,
me afaga e me tranquiliza. A casa das
bengalas reforçou ainda o apreço que tenho pelo seu autor, criador de
histórias simples, habitadas por personagens simples, portadoras de situações
com as quais me identifico sempre por me serem muito familiares. Saio da sua
leitura com um sorriso nos lábios, mesmo tendo vertido algumas lágrimas, tal
como o fez o autor enquanto a escrevia. Saio feliz e apaziguada, prometendo a
mim mesma um regresso rápido aos livrinhos infantis e juvenis.
NOTA –
09/10
Sinopse
Um avô que fica sozinho na
aldeia. A cidade não o seduz, apesar de aí residir a escassa família que
possui. O recurso a um lar de idosos para afastar a solidão daquele avô que
precisa que alguém cuidasse dele. As visitas da família são frequentes mas rápidas,
pois os visitantes "desta casa têm sempre muita pressa". Mas há o
neto que não se esquece do que o avô lhe ensinou e está sempre pronto a
satisfazer-lhe todos os caprichos.
Prémio António Botto.
Olá Ana,
ResponderEliminarJá me convenceste. Quero mesmo ler este livro!! Adorei a tua opinião.
Beijinho e boas leituras
Obrigada, Isa!
EliminarAntónio Mota é realmente especial, como tu bem sabes! Espero que saboreies com tanto prazer esta Casa das bengalas como eu o fiz!
Beijinhos!