Ficha técnica
Título – O
rouxinol
Autora – Kristin Hannah
Editora – Bertrand Editora
Páginas – 504
Data de leitura – de 24 a 31 de outubro de 2017
Opinião
As
expectativas eram muito altas. Há quase um ano que esta obra morava na
prateleira dos livros não lidos e há quase um ano que me pedia encarecidamente
que a lesse. Mas nisto das leituras sou um bocadinho masoquista (como todos já
devem saber) e, como tal, não cedi ao desejo de pegar-lhe antes que chegasse a
sua vez. Entretanto, fui aconselhando-a a várias pessoas, tal era a minha
confiança de que a sua narrativa, a sua contextualização histórica e as suas
personagens não defraudariam. E não defraudaram. Nem as minhas expectativas nem
as de quem embarcou na sua leitura primeiro do que eu.
A
narrativa de O Rouxinol está
bipartida. Inicia em 1995, nos Estados Unidos e narrada na primeira pessoa. No
seu segundo capítulo recuamos ao ano de 1939, aos dias que antecedem o começo
da segunda Grande Guerra, e conhecemos Vianne, uma jovem mulher francesa, que
vive na aldeia de Carriveau na companhia do marido e da filha. A partir daqui
viajaremos entre os dois lados do oceano, saltaremos do final do século XX para
os seis anos hediondos que arrasaram a superfície de inúmeros países e as vidas
de milhões de seres humanos, seguiremos de muito perto, como se fôssemos as
suas sombras, os passos de duas irmãs, de Vianne e de Isabelle, e constataremos,
uma vez mais, que as guerras não são apenas combatidas pelos homens.
Vianne
e Isabelle são órfãs de mãe. E também poderemos dizer que são órfãs de pai,
pois Julien Rossignol perdeu a alma e a vontade de viver nas trincheiras da
Primeira Grande Guerra e regressou das mesmas oco de sentimentos e destroçado
por dentro. As duas irmãs viram-se assim entregues a elas próprias, afundadas
na dor de perder os dois progenitores praticamente ao mesmo tempo e sem saberem
como lidar com isso. Vianne, a mais velha, não foi capaz de amparar e cuidar da
pequenita Isabelle e um fosso foi crescendo entre as duas. Rapidamente se
separaram e enquanto Vianne engravidou e casou muito novinha, Isabelle foi
sendo escorraçada de colégio em colégio devido ao seu carácter tumultuoso e a
uma vontade feroz de não depender nem obedecer a ninguém.
Quando
a guerra começa, as duas irmãs possuem visões e vontades opostas. Enquanto
Vianne tenta a todo o custo manter a sua casa, sobreviver e fazer o possível
para que não falte nada à sua filhota, Isabelle dá asas ao seu lado impetuoso e
procura, de forma quase descarada, lutar contra o inimigo e ajudar a que a
França não se verga ainda mais. Teremos assim o mote lançado para acompanharmos
as duas irmãs ao longo dos anos da ocupação nazi e, como é óbvio,
entranharmo-nos numa narrativa apaixonante, sofredora, dorida e emotiva, como
são todas as narrativas bem estruturadas, bem escritas e que se debruçam sobre
um conflito que tem tanto de horrendo como de entusiasmante para aqueles que,
como eu, não se cansam de saber mais, de ler mais sobre essa época.
O Rouxinol é uma obra que, como facilmente se
depreende, nos oferece um lado da guerra que não é muitas vezes explorado. O
lado feminino, das mulheres que se vêm sem os maridos, os namorados, os irmãos,
os pais e que sobrevivem. Sobrevivem tendo que conviver muitas vezes de forma
íntima com o inimigo que se apropria das suas casas, sobrevivem passando horas
intermináveis em filas em busca de algo para comer, sobrevivem escondendo as
suas angústias e medos para que os filhos não sofram ainda mais, sobrevivem
ultrapassando esses medos e pondo as suas vidas em perigo apenas para ajudar
quem ainda está em piores situações. São heroínas anónimas, mas são heroínas
que nos conquistam o coração, como Vianne conquistou o meu. É certo que
Isabelle é mais temerária, ajudou o seu país de forma mais concreta que a sua
irmã, porém Vianne é mãe, é uma mulher como qualquer uma de nós, que sabe que
ações grandiosas e arriscadas podem pôr em perigo a segurança e a vida da sua
filha e que, por isso, prefere salvaguardar o que é seu, com sensatez e bom
senso.
As duas
irmãs são personagens fascinantes e estão rodeadas de outras que contribuem
para que a obra seja também ela fascinante. A época que ocupa grande parte da
sua trama, a cuidada contextualização, os acontecimentos dolorosos que afetam a
vida das irmãs e dos seus entes queridos, a veracidade que os habita mesmo
sendo uma obra ficcionada e um epílogo pungente (fez-me derramar inúmeras
lágrimas) que finalmente desvela o elo entre o presente e o passado são motivos
mais do que suficientes para que eu tenha adorado a companhia que O Rouxinol me fez durante a
última semana de outubro e para recomendar vivamente a sua leitura. Tenho
apenas que dizer que não lhe atribuo a nota máxima por causa do seu início,
sobretudo porque considero que a caracterização de Isabelle, bem como as suas
atitudes, são algo exageradas. Pareceu-me que a autora “esticou a corda” ao
vincar tanto a sua petulância, a sua imaturidade, a sua impulsividade, o que
não era de todo necessário.
Agora
resta-me estar atenta a outras obras da autora, porque se forem tão boas como
esta, têm que ser de leitura obrigatória! Se conhecerem outros títulos seus que
sejam suculentos como O Rouxinol,
deixem-nos nos comentários. Eu agradeço!
NOTA –
09/10
Sinopse
O Rouxinol narra
a história de duas irmãs separadas pelos anos e pela experiência, pelos ideais,
pela paixão e pelas circunstâncias, cada uma seguindo o seu próprio caminho
arriscado em busca da sobrevivência, do amor e da liberdade numa França ocupada
pelos alemães e arrasada pela guerra. Um romance muito belo e comovente que
celebra a resistência do espírito humano e em particular no feminino. Um
romance de uma vida, para todos.
Olá Ana
ResponderEliminarDesde que saiu que tenho muita curiosidade para ler este livro.
Ainda bem que gostaste :)
Beijinhos e boas leituras
Olá, Sara!
EliminarSim, gostei muito e acho que tu também gostarás! Vale mesmo a pena arriscar!
Beijinhos e leituras muito saborosas!
Olá Ana,
ResponderEliminarJá me recomendaram este livro várias vezes. E ainda por cima de um tema que gosto muito de ler. Já estou mesmo a ver que tenho que o comprar.
Beijinhos e boas leituras
Pois é, Isa, estás em falta ;) Uma obra destas não te pode escapar, nem que para isso tenhas que cair em tentação ;) Vale a pena por tudo, pelo tema, pela força das duas irmãs e porque ficámos a conhecer mais um bocadinho daquela período que nos fascina!
EliminarArrisca! Não te arrependerás!
Beijinhos!