Domingo, 26 de julho de 2015
Opinião
Como qualquer livrólica que se preze, ando
sempre com o livro que me acompanha atrás de mim. E esta sexta-feira não foi
exceção, mesmo com uma tarde de trabalho à minha espera e sabendo de antemão
que dificilmente iria ter tempo para ler umas linhinhas… Contudo, mesmo quando
o trabalho aperta, há sempre uns minutos em que o interrompemos e relaxamos
falando do que nos dá prazer. Ora, eu tenho o privilégio de trabalhar com
mulheres fantásticas, que ainda por cima gostam de ler e têm paciência (e
gostam, eu sei J) para me ouvir divagar sobre
leituras, sejam elas as que me acompanham, as que me deslumbraram ou as que
prefiro esquecer rapidamente. Assim, nesta sexta-feira tinha em mãos (e na
pasta da escola) a obra A vida quando
era nossa cuja sinopse e primeiras páginas levaram uma das minhas
companheiras a tecer o seguinte comentário – “Esta obra é a tua cara, Ana”. E não podias estar mais certa,
Elizabete J
“«Quando
te sentires sozinha, lê um livro… Isso vai salvar-te.» Os livros têm de repente
o tato redondo e húmido de uma tábua de salvação.” (pág. 272)
Antes de tudo, esta obra da escritora
basca Marian Izaguirre é sobre o poder que os livros e as leituras têm. Um
livro faz-nos companhia, transporta-nos para outros lugares, dá-nos a
possibilidade de conhecer outras pessoas, outras épocas, outros costumes e
sobretudo ajuda-nos a evadir da vida e ao mesmo tempo a compreendê-la melhor.
Salva-nos daqueles momentos em que não sabemos como ocupar o tempo, permite-nos
rir, chorar e oferece-nos razões para não nos rendermos perante alguma
adversidade, não só por tudo o que referi, mas também porque estão aí, sempre à
nossa disposição. Seja para ler apenas umas linhas ou fazer uma maratona de
horas e horas literárias, eles estão aí.
Os livros também têm o poder de juntar
as pessoas, de fazer com que a amizade, o companheirismo se tornem ainda mais cúmplices,
mais preciosos. Fazem isso comigo e com a gente que me rodeia e fizeram isso
com os protagonistas de A vida quando
era nossa.
Matías e Lola são um casal que tem uma
pequena livraria num beco sem saída no centro de Madrid. Dedicam a sua vida a
vender material de papelaria, deixam que adolescentes comprem livrinhos de
romances cor-de-rosa e os devolvam para levar outros, vão a casa de alguns
clientes levar em mão algumas obras e muito de vez em quando têm um cliente
interessado em algum autor célebre. Não têm uma vida fácil, perderam muito com
a guerra civil e os anos que se seguiram, mas o amor e os ideais que os unem
dão-lhes força para não baixarem os braços, para não serem um número mais numa
população vergada ao regime franquista, que a tudo e todos tenta abafar e
atemorizar.
A vida dos dois, que até então seguia
uma rotina bem oleada de casa – livraria – casa, é sacudida pela surpreendente
aparição de um livro que Matías lê de uma assentada. Como a sua narrativa é
empolgante, decide partilhá-la com os seus clientes. Fá-lo, abrindo-o nas suas
páginas iniciais e pondo-o na montra da livraria, para que assim todos tenham
acesso à história de A rapariga dos
Cabelos de Linho e possam acompanhar, todos os dias, o desenrolar do
seu enredo. Contudo, a iniciativa de Matías não tem o impacto que ele desejava.
Apenas uma senhora já de alguma idade, com aspeto de ser estrangeira, se detém
a olhar a montra e mostra interesse no que lá está exposto. Troca umas
impressões com Lola e convence-a a ler-lhe a obra em voz alta.
A partir daqui, a narrativa intercala
capítulos que nos narram o quotidiano madrileno de Matías, Lola e Alice, a
senhora de aspeto estrangeiro, com outros dedicados à leitura de A rapariga dos Cabelos de Linho,
leitura essa que acontece sempre às terças e quintas de manhã, quando na
livraria está apenas Lola. Será então nesses períodos matinais que as duas
mulheres (aparentemente distintas, mas com tanto em comum), lendo o mesmo livro
juntas, comentando algumas das suas passagens, predizendo o futuro de alguma
personagem, iniciarão uma relação de amizade e de cumplicidade, daquelas que
nos permitem fazer as mais íntimas confidências e que dão um sabor tão especial
à vida.
A
vida quando era nossa
é por tudo isto uma obra que nos toca, que nos fala daquela maneira intensa ao coração.
A sua história está escrita de uma forma serena, tranquila, mas possui os
ingredientes necessários para ser um bálsamo para a alma e para mexer connosco.
É certo que toca de uma forma mais veemente a quem é amante das leituras
(tropeçamos frequentemente em referências a autores clássicos como Emily
Brontë, Emily Dickinson, Joseph Conrad, James Joyce e muitos mais ou ainda em fragmentos de obras ou poemas), mas ninguém conseguirá ficar indiferente às
personalidades cativantes dos três protagonistas, às descrições de épocas tão
marcantes como os “loucos anos 20” ou a guerra civil espanhola e posteriores
anos e à mensagem intrínseca que retiramos de tudo o que lemos até que fechamos
a obra – por muito que a realidade seja adversa, por muito que já tenhamos
sofrido, não nos podemos render. Temos que, como dizem os espanhóis, “seguir adelante”, apoiar-nos naqueles
que estão ao nosso lado, não deixar de lutar por aquilo em que acreditamos e continuar
a usufruir da companhia imprescindível dos livros. Porque eles podem
salvar-nos!
Recomendo assim que leiam esta obra
preciosa, que se deixem cativar por ela, porque seguramente não se arrependerão
J
NOTA – 09/10
Sinopse
A Vida Quando era Nossa é
um tributo à literatura, mas é sobretudo uma história de amizade entre duas
mulheres. Uma história que começa quando se abre um livro e que só termina
quando todas as pontas da narrativa se unem.
«Tenho
saudades do tempo em que a vida era nossa», diz Lola, a protagonista do
romance. Sente falta da sua vida, tão cheia de esperança, feita de livros e
conversas ao café, sestas ociosas e projetos de construir um país. A Espanha
que, passo a passo, aprendia as regras da democracia. Mas, em 1936, chega
um dia em que a vida se transforma em sobrevivência e agora, passados quinze
anos, a única coisa que sobra é uma pequena livraria, meio escondida num dos
bairros de Madrid, onde Lola e Matías, o marido, vendem romances e clássicos
esquecidos.
É
nesse lugar modesto que, em 1951, Lola conhece Alice, uma mulher que encontrou
nos livros uma razão para viver. Acompanhamos a amizade entre as duas, atrás do
balcão a lerem o mesmo livro juntas, e isso leva-nos atrás no tempo, à Londres
do início do século XX, para conhecermos uma menina que se perguntava quem
seriam os seus pais…
Olá Ana,
ResponderEliminarAdorei a tua opinião! Não conhecia este livro e fiquei super interessada nele.
Parece ser muito interessante.
Beijinhos e boas leituras
Olá, Isaura!
EliminarÉ mesmo um belo livro, com uma bela história, sobretudo para livrólicas como nós ;)
Recomendo-o vivamente!
Beijinhos e boas leituras!
Um dos meus livros preferidos! Concordo com as suas palavras! Parabéns pelo seu cantinho! Vou continuar a visitar. Cumprimentos :)
ResponderEliminarRaquel.
Seja bem-vinda, Raquel! Muito obrigada pelas suas palavras! "A vida quando era nossa" tem mesmo todos os ingredientes para conquistar-nos :)
EliminarBeijinhos e volte sempre!