Sr. Pivete, de David Walliams


Ficha técnica
TítuloSr. Pivete
Autor – David Walliams
Editora – Porto Editora
Páginas – 232
Data de leitura – de 28 a 30 de novembro de 2017

Opinião
O Sr. Pivete tresandava. Aliás, fedia. E se fedorentíssimo for uma palavra em português, então o cheiro dele era fedorentíssimo. Ele era o fedorento mais fedorento que alguma vez existiu.” (pág. 11)
Este é o parágrafo inicial de uma narrativa simplesmente deliciosa e que chegou às minhas mãos porque, tal como já referi em outras opiniões, sou uma privilegiada a quem emprestam obras que de outra forma poderiam passar-me despercebidas ou ser preteridas, na obra da compra, por aquelas que já preenchem a minha wishlist há tempos e tempos.
Nas raras vezes que este ano letivo temos almoçadas juntas, a Susana e eu trocámos impressões sobre as leituras que eu vou fazendo e sobre aquelas que ela vai partilhando com os dois filhotes. Foi assim que tomei conhecimento do Sr. Pivete, uma obra que, segundo ela, teria que ler porque me iria proporcionar momentos únicos. E assim foi.
O Sr. Pivete é um senhor já avançado na idade que vive na rua, na companhia da sua cadela Duquesa, tão fedorenta e suja como ele. Ninguém, mas ninguém se aproxima dos dois, porque o cheiro que destilam é tão pestilento que, a alguns metros de distância, o nariz não pode encorrilhar mais e a vontade de vomitar é quase insuportável. Até que um dia, Chloe, uma menina de 12 anos, sente que a sua curiosidade é mais forte que o desejo de distanciar-se do pivete (“… o pior tipo de cheiro que existe”) e aproxima-se do sem-abrigo que fez de um velho banco de jardim a sua residência. Mete conversa com ele, fica a saber que o Sr. Pivete se vê a si mesmo como um vagabundo (“Não gosto da palavra “sem-abrigo”. faz lembrar alguém que cheira mal – pág. 35) e, pouco a pouco, é capaz de engolir a vontade vomitar e apertar o nariz e começar a ver naquele “vagabundo” o único amigo que tem na vida.
Li a obra num tempo recorde, tendo em conta o caos que é o final de um período letivo, com testes e avaliações que não parecem terminar nunca. Li-a num tempo recorde porque a narrativa e as ilustrações que a acompanham são deliciosas. A personagem do Sr. Pivete é uma das melhores personagens com que já me cruzei nestes anos infindáveis de leitora compulsiva. É deliciosamente ternurenta, elegante como só um verdadeiro cavalheiro pode ser, sagaz e muito, mas muito hilariante. Rompi frequentemente em gargalhadas com passagens suas. Há momentos que são impagáveis, acima de tudo aqueles que ele, propositadamente, se faz de ingénuo e parvinho. Quanto à sua amiga Chloe, ninguém consegue ficar indiferente ao sofrimento que carrega uma menininha de 12 anos, que é alvo constante de chacota das colegas da escola, desprezada pela irmã mais nova, criticada vezes sem conta pela sua mãe e a quem apenas o pai acarinha, mas só quando o próprio não é “espezinhado” pela esposa. As restantes personagens, isto é, os membros da família de Chloe, o Raj, dono de uma loja de doces, e uma e outra mais, estão igualmente muito bem construídas e o exagero que o autor colocou nas suas atitudes e no seu caráter levam-nos a soltar mais umas boas gargalhadas e a encaixar o que verdadeiramente está por detrás da ironia, do escárnio e do maldizer. A juntar a tudo isto (como se não fosse suficiente), deparei-me com um final perfeito, perfeito, que me arrancou umas sentidas lágrimas e me fez ter ainda mais vontade de dar um abraço apertadinho ao Sr. Pivete, nem que para isso tivesse que apertar o nariz com uma mola e parar de respirar. Absolutamente e magicamente perfeito!
Por tudo isto, rogo-vos que leiam esta obra, que a ofereçam aos miúdos que tenham por perto, que façam como a minha colega Susana e partilhem a sua leitura com filhotes, sobrinhos, afilhados, com quem quiserem, mas que a leiam!!! É obrigatório que o façam! Eu já prometi a mim mesma que tenho que a comprar para a minha estante, para que o pequeno cá de casa a possa ler e para que eu possa reler um dia destes!

NOTA – 10/10

Sinopse
Chloe é talvez a menina mais solitária do mundo. E, então, conhece o Sr. Pivete, o sem-abrigo que anda pelas ruas perto de sua casa. Sim, ele cheira um pouco mal - mas é também a única pessoa que trata Chloe com alguma simpatia. Por isso, quando o Sr. Pivete precisa de um sítio para ficar, Chloe decide esconde-lo no barraco do jardim.
Mas Chloe depressa descobre que há segredos que prometem sarilhos. E, por falar em segredos, talvez o Sr. Pivete tenha um que te deixe com a pulga atrás da orelha! (Literalmente…)

2 comentários:

  1. E eu a julgar que tinha sido uma leitura conjunta com o teu miúdo e, afinal, ficaste com a diversão só para ti! O meu filho gostou deo Rapaz Milionário que lhe ofereci no Natal passado, mas acho que ainda vai achar mais graça a este. Não me orgulho de o admitir, mas todos os livros com temas escatológicos e fedorentos são um êxito garantido com os meus miúdos.
    Paula

    P.S. - Que giro, li Cidade de Ladrões há um par de meses! Quero muito saber o que achaste dele, mas eu só te digo que me apaixonei um bocadinho pelo Kolya. :-)

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  2. Como era um livro emprestado, nem sequer pus a hipótese de lê-lo com o mais novo cá de casa, porque não gosto muito de ficar com livros emprestados por tempos indefinidos. Mas como fiquei completamente derretida com o Sr. Pivete, vou tratar de comprá-lo para que o filhote o possa ler e dar umas boas gargalhadas com as partes fedorentas que não são apenas um êxito garantido com os teus miúdos.
    Anoto a tua sugestão - quero ler O Rapaz Milionário e outros do autor!
    Entretanto já acabei de ler Cidade de Ladrões e partilho da paixão que dedicas ao Kolya - que figura hilariante única! E mais não digo, pelo menos para já!
    Beijos

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