O prisioneiro do céu, de Carlos Ruiz Zafón

RELEITURA

Ficha técnica
TítuloO prisioneiro do céu
Autor – Carlos Ruiz Zafón
Editora – Planeta Manuscrito
Páginas – 398
Datas de releitura – de 19 a 23 de janeiro de 2018

Opinião
De volta às releituras e de volta à saga de “O Cemitérios dos Livros Esquecidos”. Como sabem, iniciei este ano de leituras com uma releitura que já me tentava há demasiado tempo. Reli A sombra do Vento e de novo rendi-me à sua narrativa pincelada de mistérios, de amores impossíveis, de vinganças, de personagens sublimemente (im)perfeitas como Daniel, Bea, Julián, Penélope, Nuria ou Fermín (como ri e chorei com este homem!) e de uma absoluta devoção aos livros, sobretudo àqueles que se classificam de malditos ou àqueles que jazem quase moribundos nas prateleiras da livraria Sempere e Hijos ou no labirinto mágico de um cemitério a que um punhado de afortunados vai tendo acesso. Saboreei a releitura com mais prazer do que a havia saboreado na leitura original e vi-me obrigada a rebentar a escala e dar-lhe uma classificação de 11!
Também já confessei aqui algures que pretendo fazer de 2018 um ano de muitas releituras. Irei intercalando-as com leituras novas e assim poderei satisfazer uma vontade que me persegue sempre que percorro com os olhos e os dedos as lombadas dos livros das estantes cá de casa e sinto aquele arrepiozinho bom ao deter-me num título de uma obra que há dois, três ou mais anos atrás me conquistou sem reservas. Dei azo a essa vontade logo quando o ano arrancou, com a referida releitura de A sombra do vento e a ela seguiu-se a do volume três da saga de Carlos Ruiz Zafón.
Quem conhece esta saga sabe que a mesma não necessita ser lida pela ordem cronológica de publicação. Contudo, essa não foi a razão pela qual decidi saltar do volume um para o três. A razão principal (e única) prende-se com o facto de ter lido o volume dois – O Jogo do Anjo – pouco tempo depois de ter sido publicado e ter ficado muito desiludida com ele. A aura de mistério mantém-se, continuamos em Barcelona, recuamos alguns anos em relação ao período narrado em A sombra do vento, tropeçamos em personagens conhecidas, continuamos enredados pelo amor pelos livros, mas a partir do momento em que o sobrenatural mancha a história, lá se vai o meu interesse e a correspondente credibilidade que tem que sustentar qualquer história que me queira agarrar.
Sendo assim, após ter-me deliciado e lambuzado com A sombra do vento, segui direitinha para O prisioneiro do céu, sem qualquer tipo de dúvida ou remorso. Daniel está casado com Bea e os dois são pais de um bebé chamado Julián. Fermín está prestes a casar, mas anda num estado de irritabilidade e melancolia que não se adequa com a iminente concretização do sonho de juntar os trapinhos com Bernarda. Este estado, porém ficará ainda pior quando se inteirar de uma visita de um homem de aspeto pouco tranquilizador à livraria Sempere e principalmente do recado que o mesmo deixou para si num exemplar da obra O conde Monte Cristo.
Este recado será o motor desencadeador para uma narrativa que nos abrirá portas ao passado de Fermín Romero de Torres e nos fará conhecer ainda melhor este homenzinho enxuto de carnes, dono de um enorme nariz e de um ainda maior coração. Regressaremos aos anos tormentosos do imediato pós-guerra civil, franquearemos as portas da tortuosa cadeia do castelo de Montjuic, saberemos quem era afinal aquele homem estranho e assustador que foi à livraria Sempere apenas para deixar um enigmático recado a Fermín, perceberemos finalmente por que razão este sempre esteve relacionado com a família Sempere e conheceremos um pouco melhor quem foi na verdade Isabel Sempere, mãe de Daniel. Meteremos a mão a tudo isto numa leitura vertiginosa, feita de capítulos curtinhos e de uma história habilmente montada pelo autor que não queremos largar mesmo quando viramos a última página. Comigo, pelo menos, foi assim. Fiquei de tal forma sedenta de respostas que, mal encerrei a leitura deste volume, voei para a estante onde estava à minha espera o calhamaço que contém o volume quatro e me embrenhei de imediato nas suas 845 páginas!
Sinto-me muito, mas muito tentada em deixar nesta opinião algumas migalhinhas do que estou a desvendar no último volume. Mas não o vou fazer, porque acho que, se o fizesse, estaria a ser “injusta” e a menosprezar de alguma forma o valor, o interesse e o prazer que retirei da leitura de O prisioneiro do céu. Admito que não me arrebatou tanto como o fez o seu antecessor (já previa isso, sobretudo porque é quase impossível que dentro de uma saga não haja mais e menos prediletos). Contudo, agradeço e muito ao autor ter dado neste volume a oportunidade de Fermín brilhar. Brilhar com as suas fraquezas, as suas imperfeições e acima de tudo com o seu coração do tamanho do mundo, a sua retidão, a sua verborreia inigualável, que me arranca gargalhadas esteja eu onde estiver, o seu apetite e o poder milagroso que atribui a um Sugus, principalmente se for de limão (os meus preferidos 😊).
Fermín conquistou-me. Aliás, estou um bocadinho apaixonada por ele e já sinto saudades, mesmo ainda não tendo terminado de ler o volume quatro. Por ele, recomendo que leiam O prisioneiro do céu. É certo que não é tão absorvente, tão deliciosamente avassalador como A sombra do vento, mas se estiverem tão apaixonados como eu por Fermín vão querer conhecê-lo melhor e só o podem fazer lendo O prisioneiro do céu.
Fica a recomendação. Eu, entretanto, vou devorando as páginas de O labirinto dos espíritos e vou saboreando a cada momento a vontade gulosa que espicaça as minhas glândulas salivares quando recordo o sabor de um Sugus de limão. Tenho que cuscar em supermercados e quiosques para ver se ainda se vendem!

NOTA – 09/10

Sinopse
Barcelona, 1957. Daniel Sempere e o amigo Fermín, os heróis de A Sombra do Vento, regressam à aventura, para enfrentar o maior desafio das suas vidas. Quando tudo lhes começava a sorrir, uma inquietante personagem visita a livraria de Sempere e ameaça revelar um terrível segredo, enterrado há duas décadas na obscura memória da cidade. Ao conhecer a verdade, Daniel vai concluir que o seu destino o arrasta inexoravelmente a confrontar-se com a maior das sombras: a que está a crescer dentro de si.
Transbordante de intriga e de emoção, O Prisioneiro do Céu é um romance magistral, que o vai emocionar como da primeira vez, onde os fios de A Sombra do Vento e de O Jogo do Anjo convergem através do feitiço da literatura e nos conduzem ao enigma que se esconde no coração de o Cemitério dos Livros Esquecidos.

4 comentários:

  1. 850 páginas, não é? Então, vemos-te lá para Março! ;-) Acho que, agora, só há pacotes de Sugus com vários sabores, que amolecem logo na mala, uma bodega!
    Pois é, depois de ler isto, balancei nas minhas certezas. Gostava realmente de saber mais sobre as personagens do primeiro volume e na falta de livros fininhos, capítulos curtinhos é o que mais me puxa. Quizás, quizás, quizás...
    Bom fim de semana!
    Paula

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    1. Com que então fiz com que as tuas certezas balançassem?... Pode ser que ainda te convença a dar uma oportunidade a este terceiro volume e ao Fermín e os seus "Sugus" de propriedades curativas e balsâmicas ;)
      Ainda não encontrei "Sugus" de limão, mas quando lhes meter a mão, vou provavelmente sofrer uma desilusão e ficar com sabor de bodega na boca, mas... tenho que experimentá-los!
      Março??? Naaaaa, já está papadinho! E outro já se lhe seguiu!
      Bom fim de semana!

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  2. Bem...gostas mesmo de releituras. Eu é raro reler um livro. E "shame on me"...ainda não continuei com a saga do Zafon. Enfim...vergonhas literárias :)
    Um beijinho e boas leituras

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    1. Sim, sou mesmo fã de releituras e estas do Zafón foram fabulosas, souberam tão bem ou melhor que a leitura inicial! Dá uma oportunidade a esta saga, porque, se gostaste do primeiro volume, vais gostar deste e do quarto!
      Beijinhos e leituras muito saborosas!

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