A contadora de histórias, de Jodi Picoult



Ficha técnica
TítuloA contadora de histórias
Autora – Jodi Picoult
Editora – Bertrand Editora
Páginas – 516
Datas de leitura – de 03 a 10 de março de 2018

Opinião
Este é apenas o segundo livro de Jodi Picoult que leio. O primeiro li-o há anos (já não sei bem quando) e não me deixou boas memórias. Refiro-me a O décimo círculo e ainda hoje acho que foi uma leitura banal, sem nada que a destacasse de outras leituras banais.
Sempre associei a autora a histórias carregadas de dramatismo, de escolhas quase impossíveis. Confesso que não consigo deixar de fazer um paralelismo entre as suas narrativas e as notícias que inundam os nossos telejornais daquilo que se passa nos Estados Unidos e parece que não se passa em mais lado nenhum do planeta. Sei que estou a ser parcial e até preconceituosa, mas não o consigo evitar, é uma associação imediata e inconsciente.
Ora, como devem calcular, foi com algum espanto e muita curiosidade que constatei que A contadora de histórias ocultava um segredo a que apenas tive acesso lendo algumas críticas e opiniões que leitores e leitoras foram deixando em blogues e no Goodreads – nada na sua capa e na sua sinopse o indicam, mas a trama desta obra centra-se, e muito, na Segunda Guerra Mundial e no Holocausto. Sendo assim, e porque queria dar outra oportunidade a Jodi Picoult e porque sabia que seria uma ótima leitura para o maridinho, ofereci-lhe A contadora de histórias no Dia do Pai do ano passado.
A cronologia das minhas leituras ditou que lesse a obra em março, mês que estou a dedicar às leituras no feminino e quase um ano depois de a mesma ter aterrado na estante cá de casa. Li-a a uma velocidade considerável, já que apenas levei sete dias a ler mais de quinhentas páginas num mês sufocante, com o período escolar a terminar e a pilha de trabalho a aumentar para números angustiantes. Mas adiante.
A contadora de histórias é uma narrativa protagonizada no feminino e que deambula de forma muito entusiasmante entre o passado e o presente. Nos dias de hoje conhecemos Sage Singer, uma jovem que carrega um peso de culpa dentro de si e que o tenta aliviar amassando e fazendo pão das mais variadas formas e sabores numa padaria da sua localidade. Tem uma vida de quase reclusa e as suas idas e vindas da padaria para casa são só quebradas com as sessões que frequenta num grupo de apoio a pessoas que não consegue lidar com o luto. Será nesse grupo que fará amizade com um idoso (que se apresenta como Josef Weber) e que acabará por fazer-lhe uma confissão e um pedido que abalroarão a sua existência de eremita solitária. Joseph admite a Sage um segredo guardado há mais de cinquenta anos – ele é um ex-nazi e quer que ela o ajude a morrer.
Esta confissão cai como uma bomba na vida da protagonista e será o elemento desencadeador do desenvolvimento da narrativa. Esta começará a fragmentar-se em capítulos que saltam do presente para o passado e isso permitir-nos-á conhecer mais a fundo outras personagens – o próprio Josef enquanto oficial nazi, a sua família, sobretudo o seu irmão Franz, e a avó de Sage, Minka, uma sobrevivente do Holocausto e de Auschwitz.
Quem me conhece minimamente sabe que sou obcecada por tramas que abordam a Segunda Grande Guerra e que vibro com histórias que me absorvem com o seu ritmo vivo e com um crescendo no desvendar de pormenores que culminam num desenlace estrondoso. A contadora de histórias esteve realmente à altura desses parâmetros, partilhando comigo o passado de Minka como criança judia e polaca, a sua juventude passada no gueto de Lotz, a sua deportação para Auschwitz e a sua sobrevivência a esse local infernal. Para além disso, gostei muito da alternância entre passado e presente, que me manteve suspensa, à espera de mais detalhes e desenvolvimentos que me permitissem conhecer melhor Sage, Josef, Darija (a melhor amiga de Minka) e Franz e gostei igualmente da mensagem sub-reptícia que atravessa a obra e que nos comprova que nada na vida é linear, que nada é preto e branco e que por detrás de uma pessoa que parece não fazer mal a uma mosca pode estar o mais hediondo assassino.
Por tudo o que referi até aqui, podem concluir que a leitura desta obra foi muito boa e que derrubou alguns preconceitos que eu tinha acerca da sua autora. No entanto, para mim o desenlace de A contadora de histórias não foi o mais bem conseguido. Defraudou-me o final que Jodi Picoult reservou para Sage e tão-pouco me foi difícil desvendar a reviravolta que se dá nas últimas páginas. Porém, mesmo tendo em conta estes pormenores, não dou como perdido o tempo que passei com a obra nas mãos. De modo nenhum. Recomendo-a e muito, sobretudo para aqueles que partilham a minha obsessão pelo Holocausto e a Segunda Grande Guerra, já que é preciso respirar fundo e engolir a dor e o horror perante algumas passagens que Minka nos conta da sua vida enquanto sobrevivente do inferno na Terra.
Termino, dizendo que, como podem adivinhar, ganhei um carinho muito especial por Minka (para mim a verdadeira protagonista desta obra) e que esse carinho é antitético, pois a sua história apoderou-se de mim de tal forma que me pediu e ainda me pede que faça um interregno de algum tempo em leituras do Holocausto. Acho que está na altura, para bem da minha sanidade mental e emocional. Mas será que vou ser capaz de cumpri-lo?...
Esta foi a segunda leitura feminina que fiz este mês. Segue-se A vida inútil de José Homem, de Marlene Ferraz, que já está há demasiado tempo à minha espera na estante.

E o vosso março? Como vai de leituras? Já leram Jodi Picoult? Recomendam-me alguma das suas obras?

NOTA – 09/10

Sinopse
Sage Singer é padeira de profissão. Trabalha de noite, a preparar o pão e os bolos para o dia seguinte, tentando fugir a uma realidade de solidão, a más memórias e à sombra da morte da mãe. Quando Josef Weber, um velhote que faz parte do grupo de apoio de Sage, começa a passar pela padaria, os dois forjam uma amizade improvável. Apesar das diferenças, veem um no outro as cicatrizes que mais ninguém consegue ver.
Tudo muda no dia em que Josef confessa um segredo vergonhoso há muito escondido e pede a Sage um favor extraordinário. Se ela disser que sim, irá enfrentar não só as repercussões morais do seu ato, como também potenciais repercussões legais. Agora que a integridade do amigo mais chegado que alguma vez teve está envolta numa névoa, Sage começa a questionar os seus pressupostos e as expectativas em torno da sua vida e da sua família. 
Um romance profundamente honesto, em que Jodi Picoult explora graciosamente até onde podemos ir para impedir que o passado dite o nosso futuro.

6 comentários:

  1. Será?! Ainda deves ter alguns desta temática nas tuas estantes. Dá pelo menos uma hipótese ao "Charlotte", que não tem dessas cenas chocantes, mesmo sendo extremamente triste.
    Tenho ouvido falar bastante deste livro da Jodi, já que no YouTube algumas portuguesas que sigo o leram num projecto sobre o Holocausto, e as opiniões delas também eram positivas.
    Eu tenho a mesma ideia que tu desta autora, muito drama, ao qual associo também sentimentalismo e pieguice, por isso, não está nos meus planos imediatos ler nada dela. Também não precisa de mim, já é amada por milhões! :-)
    Paula

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    1. Ehehe, sim, de certeza que não precisa de mais duas leitorzinhas para aumentar o seu clube de fãs!
      Tens razão quando dizes que ainda tenho alguns livrinhos sobre a temática (o meu marido não deixaria que fosse de outra forma), mas vou mesmo fazer um interregno, nomeadamente naqueles que se relacionam com o Holocausto.
      OK, se dizes que não é tão chocante, lerei em breve o Charlotte, do David Foenkinos. Obrigada por me teres lembrado dele!
      Beijinhos!

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  2. Olá Ana,
    Que bom que gostaste. Este é o meu preferido da autora. Adorei!!
    Um beijinho e boas leituras

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    1. Sim, Isa, gostei mesmo muito e talvez agora dê uma nova oportunidade a esta autora e leia outras obras suas!
      Beijinhos e leituras muito saborosas!

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  3. Olá Ana
    Também li este livro este ano e adorei!
    Gosta bastante da autora, mas os seus finais são geralmente um "pouco" discutíveis.
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá!
      O livro é mesmo muito bom, mas fiquei algo frustrada com o seu final. Como dizia o Herman José - "não havia necessidade!..."
      Vou ver se deixo de lado a "birra" que tinha com esta autora e leio mais obras suas, porque se forem da qualidade desta, valem bem a pena!
      Beijinhos!!!

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