Ficha técnica
Título – A
história do amor
Autora – Nicole Krauss
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 316
Datas de leitura – de 16 a 19 de janeiro de 2019
Opinião
Há muito tempo que tinha este livro
anotado no caderninho das leituras que quero trazer da biblioteca da terrinha,
mas não me recordo de onde retirei a sugestão. Acho que foi de opiniões de
amigos do Goodreads em quem confio
muito.
Entrei para a leitura quase às cegas,
como aliás prefiro, mas fiquei extremamente contente quando me dei conta, numa
das nossas habituais conversas escritas, que, sem combinarmos nadinha, eu e a
Paula estávamos a ler (ela a ouvir em audiobook)
a mesma obra. Aproveitamos muito bem os minutinhos em que nos dirigimos ao e-mail para partilharmos ideias,
opiniões e inclusive dúvidas sobre momentos relativos ao desenlace. Foi, mais
uma vez, uma experiência muito proveitosa e que a mim sempre me deixa com um
sorriso nos lábios e como que saciada.
Desengane-se quem pressupõe que esta
obra nos oferece uma narrativa lamechas ou, usando uma expressão da Paula,
delicodoce. O título pode ser visto como enganador, já que parte dum outro
título, duma outra narrativa que une e entretece todas as histórias que compõem
a trama. Porque de verdade é disto que se trata – uma trama que “vive” de
várias, que as vai entrelaçando, exigindo do leitor bastante atenção e perícia
para encaixar as peças narrativas de um puzzle que só fica terminado e claro
(de uma claridade ainda assim algo dúbia) nas páginas e linhas finais.
Leo Gursky é um velhote solitário,
habitante de uma grande cidade americana. É judeu, escapou à morte aquando da
Segunda Grande Guerra e traz dentro de si muitas vidas e muitas mortes, muita
dor, resignação e uma invisibilidade que nos toca profundamente. Alma é uma
miúda de 12 anos que também vive nos EUA com a sua mãe e o seu irmão. Perdeu o
pai aos 6 anos e essa perda fraturou de forma irreversível a sua vida e a sua
família. Zvi Litvinoff é um escritor algo obscuro, da Europa de Leste e foi
amigo, durante a juventude, de Leo Gursky. Por fim, o quarto e último narrador
da obra é o irmão de Alma, uma criança cuja excentricidade não traz nem
acrescenta nada a uma história que se tornaria mais perfeita se, por vezes, não
caísse na redundância ou em momentos um pouco monótonos, como esses que estão
associados a Bird, irmão de Alma, e o seu fervor religioso.
Foi a primeira vez que li Nicole Krauss
e gostei imenso, muito mesmo, da experiência. O seu estilo é lindíssimo, lírico,
introspetivo, com passagens que me deixaram com uma vontade louca de as sublinhar
(só não o fiz porque o livro veio da biblioteca) e com duas das personagens
mais enternecedoras e comoventes com que lidei nos últimos tempos, não fossem
elas um velhote (Leo) e uma criança (Alma). Leo é, sem qualquer tipo de dúvida,
alguém de quem me condoí como poucas vezes o fiz com uma pessoa ficcionada. O
amor que, mesmo já velho, ainda devota à mulher da sua vida, a sua inocência e
credulidade, a sua invisibilidade voluntária perante alguém que é sangue do seu
sangue e os gestos carregadinhos de ternura que tem para com outra personagem
nas derradeiras páginas da obra, tudo isto compõe alguém que eu não esqueço,
nem quero esquecer. De Alma recordarei os esforços hercúleos de uma menina
adolescente que carrega nos ombros a tristeza de uma família órfã de pai e de
marido. Às outras personagens dei e continuo a dar um espaço bem mais
secundário, mas uma delas manter-se-á comigo como sendo aquela que me reservou
a surpresa “mais surpreendente” do final do livro.
Acho que não vale a pena alongar-me mais,
pois o resto deixo para quem queira dar uma oportunidade a esta história maravilhosa,
que nos oferece as mais variadas facetas do amor. Peço-vos, por favor, que
tomem nota desta minha recomendação e que não se esqueçam dela, porque não se
arrependerão – o estilo da autora, com passagens inesquecíveis, não o
permitirá.
Obrigada, Paulinha, por mais uma viagem
em conjunto! Venha a próxima!
NOTA – 09/10
Sinopse
Leo
Gursky tenta sobreviver mais algum tempo, batendo no radiador todas as noites
para dar a saber ao seu vizinho de cima que ainda está vivo e fazendo recair
sobre si as atenções ao balcão do Starbucks do bairro. Mas a vida nem sempre
foi assim: há sessenta anos, na aldeia polaca onde nasceu, Leo apaixonou-se e
escreveu um livro. E, embora não o saiba, esse livro também sobreviveu:
atravessou oceanos e gerações, e mudou vidas. Alma tem catorze anos e foi assim
baptizada em honra de uma personagem desse livro. Passa a vida a vigiar Bird, o
seu irmão mais novo (que acredita poder ser o Messias) e a tomar notas num
caderno intitulado Como Sobreviver na Selva – Volume III. Mas no dia em que uma
misteriosa carta lhe chega pelo correio começa uma aventura para descobrir a
sua homónima e salvar a família. Neste seu extraordinário novo romance, Nicole
Krauss criou algumas das personagens mais memoráveis e tocantes da ficção
recente numa história transbordante de imaginação, humor e paixão.
Comprei este livro no mercado de usados pois já estava esgotado. Por regra compro livros recomendados pela Ana Lopes e mais uma ou duas pessoas. Não é o caso deste livro. Já não sei onde o descobri, mas sei que era o livro de vida dessa pessoa. E quando assim é...
ResponderEliminarBoa noite.
E quando assim é tem tudo para ser uma leitura muito saborosa. Eu também o li por ter lido/visto duas opiniões de leitores que suplicavam que o lessem!
EliminarBeijinhos, Joaquim, e belas leituras.
Li este livro há uns anos por recomendação da Rita do "Claro como a água" (ela tinha adorado) e gostei muito. Pecou, para mim, nas frases feitas e repetições que se tornaram excessivas, nos desvios absurdos com outras personagens.
ResponderEliminarEntendo as tuas "críticas" - foi por causa delas que não lhe dei a pontuação máxima! Mas o Leo e a Alma são personagens inesquecíveis e só por causa deles este livrinho valeu muito a pena!
EliminarBeijinhos, Bárbara!
Este livro tinha tudo para ser uma pirosice, começando pelo título, mas realmente não é. Foi escrito com as doses certas de melancolia e sensibilidade, mas foram sem dúvida as partes do Leo que me fizeram engolir em seco várias vezes. Quanta solidão!
ResponderEliminarUma leitura fantástica em boa companhia como sempre!
Paula
Sim, nada de pirosice, muito pelo contrário! O Leo é realmente uma personagem muito especial, que nos agarra e que queremos embalar!
EliminarE sim, é tão, tão bom quando "desbravamos" uma leitura em conjunto! Venham mais!
Beijinhos!!!