Quinta-feira, 06 de agosto de 2015
Opinião
Ao terminar a leitura de A mulher certa, não consigo
deixar de sentir que algo falhou… Não sei se o mês de agosto, com os seus ares
de descanso e relaxamento, foi o mais apropriado para adentrar-me numa obra tão
densa ou se não abordei a sua leitura da maneira mais certa… A realidade é que
ler as suas 418 páginas foi custoso e reconhecê-lo dói um pouco, porque tenho
plena consciência de que tive nas mãos um romance de um senhor autor, de um
daqueles escritores que têm que ser lidos pelo menos uma vez na vida. Para além
disso, muitas das pessoas com quem vou falando e partilhando leituras e
sugestões recomendaram-mo, afirmando que qualquer obra deste autor húngaro vale
muito a pena…
Tomei conhecimento de A mulher certa através de uma
publicação que a minha querida compincha literária, Ana Sofia, deixou no seu
blogue Cartografia Pessoal. Na
referida publicação, relatava uma estada em Budapeste e mais propriamente a sua
passagem por uma pastelaria requintada e que tudo indicava ser a mesma que está
presente na primeira parte da obra de Sándor Márai. Os que me conhecem bem sabem
que a capital húngara ocupa um cantinho muito especial na minha vida e que
morro de vontade de lá voltar. Por essa razão e obviamente por tudo o que
mencionei já, apercebi-me de que tinha que ler e conhecer Sándor Márai.
A
mulher certa está
dividida em quatro partes e todas elas têm um narrador diferente que se situa
em momentos distintos do século XX. Cada um está obviamente relacionado com os
demais por laços amorosos e vai relatando para um amigo ou amante pedaços da
sua vida, que ligações estabeleceu com as outras personagens protagonistas da
obra e sobretudo vai tecendo comentários sobre a vida, a natureza humana, o
amor, a amizade, a solidão, bem como sobre aquilo que é a essência de ser
burguês e que distingue essa classe social das outras.
Assim, cada personagem conta a sua
experiência e oferece-nos a sua perspetiva, a sua verdade. Mas fá-lo de uma
forma que se torna repetitiva, cansativa e que faz com que o ritmo da leitura
se arraste até ao ponto de querermos que a última página chegue o mais
rapidamente possível… Apesar de cada uma das partes da obra ser um diálogo
entre o seu narrador e alguém, é na verdade um monólogo que aborda inúmeras
vezes questões como “o que é realmente um burguês”; “ o que distingue um senhor
dos restantes mortais”; “qual a importância da arte para nos compreendermos
enquanto seres humanos”; “quem será a mulher ou o homem certo para nós” e
muitas mais. Ora, muitas destas questões são interessantíssimas e os
comentários e divagações que despoletam levaram a que sublinhasse imensas passagens
maravilhosas de tão certeiras me pareceram. Contudo… esses fragmentos não foram
suficientes para cativar-me em absoluto. Infelizmente.
Pouco mais resta a dizer… Sinto-me um
pouquinho derrotada, defraudada e adoraria poder dizer o contrário, porque é
uma obra de Sándor Márai, é uma obra repleta de passagens deliciosamente bem
escritas e, não menos importante, é uma obra que faz uma análise muito boa da
solidão humana, da sociedade húngara (e não só) dos anos que precederam à
Segunda Grande Guerra, de como os habitantes de Budapeste (sobre)viveram ao
cerco imposto à capital aquando desse conflito mundial e à chegada dos
comunistas e finalmente do capitalismo desenfreado dos finais dos anos setenta.
Mas não estaria a ser completamente sincera se aqui afirmasse que A mulher certa me havia
conquistado em absoluto. O tédio suplanta a genialidade e não há nada a fazer…
Mesmo assim e para terminar, tenho que
dizer que não desisti de Sándor Márai e que pretendo ler outra das suas obras,
aquela que reúne as mais altas recomendações – As velas ardem até ao fim.
Deixo-vos algumas passagens que
sublinhei:
“Vivíamos
numa grande cidade, em grande estilo, com muitos conhecimentos e um grupo
enorme de amigos. Só que, justamente, estávamos sós.” (pág. 27)
“Intentou
a tarefa mais difícil que um ser humano pode empreender na vida. (…) Buscou
substituir o sentimento pela razão. É como se eu dissesse que alguém tentara
convencer, com palavras e argumentos, um pedaço de dinamite a não explodir.”
(pág. 74)
“Pois,
minha cara, que não existe a pessoa certa.” (…) Existem somente pessoas, e, em
todas elas, um pedacinho da pessoa certa, mas em nenhuma se concentra tudo o
que se aguarda e dela esperamos. Nenhuma pessoa reúne em si tudo isso, nem
existe a certa, a única, a maravilhosa, essa figura singular que nos traz
felicidade.” (pág. 120)
“Lia
como se houvesse um sentido do dever: saía um livro, falava-se dele, era
preciso ler. Ou: ainda não li este clássico, urge colmatar uma falha tão grave
na minha cultura, pelo que lhe dedico uma hora de manhã e uma à noite. E lia…
Houve um tempo em que a leitura era para mim uma autêntica experiência, o meu
coração cavalgava quando tinha nas mãos um livro recém-saído de escritores que
eu conhecia, um novo livro era como que um encontro, uma companhia arriscada de
que podíamos tirar grandes emoções, coisas boas, mas, igualmente, consequências
inquietantes e dolorosas.” (pág. 194)
NOTA – 06/10
Sinopse
Em
Budapeste uma mulher conta a uma amiga como descobriu o adultério do seu
marido. Por outro lado, um homem confessa a um amigo como abandonou a sua
mulher por outra, e uma terceira mulher revela ao seu amante como se casou com
um homem endinheirado para sair da pobreza.
Três vozes, três pontos de vista, três sensibilidades diferentes desvendam uma história de paixão, mentiras e crueldade.
Três vozes, três pontos de vista, três sensibilidades diferentes desvendam uma história de paixão, mentiras e crueldade.
Hi. I haven't read this one but just finished "
ResponderEliminarAs velas ardem até ao fim". I highly recommend it. It's really awesome! One of the best novels I've read recently.
Hi. Your recommendation is one more to add to many others. Everyone tells me "As velas ardem até ao fim" is the best novel from this author and as you can check it's on my wishlist. One of these days I'll bring it from the library ;)
EliminarThanks for stopping by, Lurdes!
Hope to see you again!