Sábado, 10 de outubro de 2015
Opinião
A
rapariga das laranjas
chegou cá a casa na companhia de O
décimo terceiro conto, ou seja, com cinquenta por cento de desconto no
preço J e com uma sinopse que prometia uma
leitura curtinha, mas intensa. Intensa de emoções que nos tocam a todos daquela
maneira tão significativa e poderosa. Falo das emoções que nos unem a todos,
pois todos somos filhos de alguém e alguns de nós já fomos abençoados com o
milagre da maternidade e da paternidade.
Até hoje nunca tinha lido nada escrito
por Jostein Gaarder. Sempre me recusei a ler a sua obra mais conhecida – O mundo de Sofia – por teimosia e
porque sempre fui e continuo a ser avessa às filosofias… Mas, ao deparar-me com
a promessa de um diálogo entre um pai falecido há mais de dez anos e um filho a
quem a doença lhe privou de ver crescer, baixei a guarda, pus de lado as
reservas que tinha contra o seu autor e embrenhei-me na sua descoberta.
Foi uma descoberta que, em algumas
passagens, me absorveu e que, em outras, nem tanto. Os contornos e essência da
história são tocantes, é dolorosa a noção de que os protagonistas são pai e
filho, que este se viu privado daquele quando apenas tinha quatro anos e que,
como tal, apenas o conhece por aquilo que os outros lhe dizem e lhe mostram.
Não pude deixar de me pôr no lugar do progenitor e partilhar a sua dor de saber
que vai morrer e não vai poder estar mais ao lado da “sua namorada” e do “seu
melhor amigo”. Contudo, a forma como esse conteúdo nos chega a nós, leitores,
deixa, na minha opinião, algo a desejar… Gostei da estrutura epistolar, do
legado em palavras que o pai deixa ao filho, mas senti que em geral a linguagem
e em particular algumas passagens são rebuscadas, sem a simplicidade que
considero ser a característica mais importante num diálogo entre seres unidos
por laços estreitos de sangue. Posso não estar a explicar-me da melhor maneira,
mas a belíssima história que pai conta a filho e consequentemente aos leitores
seria ainda mais bela e chegaria a nós mais límpida e completa se as palavras
que a compõem fossem singelas, naturais, simples e se cingissem ao que é ao fim
e ao cabo a essência da existência de um pai, de um filho e de outras pessoas
que os rodeiam e amam.
O meu lado maternal emocionou-se, mas
o meu lado de leitora, mais pragmático, sentiu-se algo defraudado… Queria mais,
ou melhor, menos… Menos “rococó” e mais sentimento, mais intimidade, mais
simplicidade, mais rotina, enfim, mais vida, mais realidade…
NOTA – 07/10
Sinopse
O
que fazer quando um pai, falecido demasiado cedo para nos lembrarmos dele,
decide falar com o filho, através de uma carta escrita há onze anos? Esta é a
experiência de Georg Roed, de quinze anos, quando a família descobre a carta do
seu pai. Juntos, Georg e o pai vão dialogar e manter finalmente a conversa de
adultos que não puderam ter em vida. Nessa carta, Jan Olav, o pai de Georg
procura uma bela rapariga carregada com um saco de laranjas. Nada o demove, nem
o facto de não saber nada dela, nem o nome. Procura-a com todo o entusiasmo da
juventude, enquanto imagina qual a razão que a leva a atribuir um valor tão
grande às laranjas que ele, desastradamente, fez rolar nesse primeiro encontro.
Georg mergulha nesta aventura descrita com grande paixão pelo pai, falecido
quando ele tinha apenas quatro anos.
Autor
do bestseller internacional O Mundo de Sofia que em 1995 foi o romance
que mais vendeu em todo o mundo, registando 25 milhões de cópias, Gaarder
traz-nos em A Rapariga das Laranjas um romance mais direcionado ao
público jovem. Através de uma belíssima carta de amor para um filho de quem o
pai sabe que não poderá acompanhar o crescimento, esta obra é um hino à vida e
ao mistério insondável que ela encerra.
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