O décimo terceiro conto, de Diane Setterfield

Terça-feira, 06 de outubro de 2015




Opinião
O título O décimo terceiro conto já figurava há bastante tempo no caderninho onde aponto os livros que quero trazer para casa. Mas por esta ou por outra razão, foi sendo “ultrapassado” por outros títulos que ia apontando… Foi assim remetido para um canto obscuro de minha wishlist e confesso que quase já não me lembrava que um dia a sua sinopse “se tinha metido comigo”.
Ora, redimi-me desta falta “imperdoável” em junho quando aproveitei uma deliciosa campanha da Editorial Presença e pude adquirir três livros a metade do preço J Enquanto cuscava todos os livros em promoção, tropecei no título de O décimo terceiro conto e tive logo a sensação de que me era familiar. Folheei o caderninho e lá estava ele, “perdido” entre títulos já com o visto de comprados. É claro que não hesitei e procedi à sua encomenda! E ainda bem que o fiz J
A ordem cronológica das minhas leituras ditou que só agora o pudesse saborear e há que dizer que os três meses que esta obra de Diane Setterfield esperou para que eu a retirasse da estante nada lhe retiraram de sabor. Aliás, para mim é esse o segredo da minha mania cronológica – sinto uma alegria especial, misturada com a compreensível expetativa de percorrer as lombadas dos livros que ainda não li e ter aquela noção de que eles estão ali, só à espera que eu lhes pegue e assim me possam fazer companhia durante o tempo que leve a lê-los… É um jogo de sedução que nunca me canso de jogar J
E assim foi com O décimo terceiro conto… Uma narrativa intensa, que narra encontros e vidas de gerações distintas, sobretudo de duas mulheres com um amor incondicional pelos livros e pela literatura. Biógrafa amadora, Margaret é filha de um alfarrabista e toda a sua existência gira à volta de livros que contam uma história, ficcional ou verídica, escrita por autores famosos ou desconhecidos, mas que têm o condão de lhe trazerem, de lhe oferecerem alguma coisa, por mais insignificante que seja. Sente uma particular predileção por obras do século XIX, como a Paixão de Jane Eyre, O Monte dos Vendavais ou A Mulher de Branco, e oferece bastante resistência quando o seu pai lhe propõe autores e obras mais contemporâneas. Contudo, essa resistência cairá por terra quando, surpreendentemente, é contactada por carta por uma autora famosa, Vida Winter, que lhe pede para escrever a sua biografia.
Este convite inesperado produzirá uma reviravolta nos interesses literários de Margaret e principalmente na sua pacata existência. Nos dias que passará a ouvir e a registar a história de vida de Vida, a jovem biógrafa será espetadora e personagem de acontecimentos extraordinários (alguns fantasmagóricos), carregados de dramatismo, de tensão, de nervos à flor da pele e de relações intensas, doentias, que nos fazem recuar no tempo e recordar as histórias e amores sofridos de Catherine e Heathcliff ou de Jane e Mr. Rochester. Tudo isto aliado a um ritmo vivo e a uma saborosa vontade de querer saber mais, que obviamente nunca deixam de prender a nossa atenção e nos “obrigam” a ler mais um pouco, mais uma página, mais um capítulo…
Por tudo isto, O décimo terceiro conto é uma obra a ler por todos que “se pelem” por uma boa e entusiasmante narrativa, pois, como já referi, possui os ingredientes suficientes para nos cativar. A história é suculenta, as personagens são redondas, complexas, surpreendentes e o fio condutor desenrola-se como, segundo Vida Winter, se deve desenrolar qualquer fio de uma boa história – começando pelo seu princípio, desenvolvendo-se, concluindo-se com o desenlace e rematando alguma ponta solta no indispensável “post-scriptum”. Para além disso, nesta obra não ficamos a matutar no que poderá ter acontecido a alguma personagem que não intervenha diretamente no desenlace ou seja secundária – Margaret, como boa biógrafa e narradora que é, não nos deixa na dúvida e informa-nos do que sucedeu a todas as personagens que intervieram na sua narrativa, por que “Todos temos uma história. É como a família. Podemos não saber quem ela é, podemos tê-la perdido, mas existe na mesma. Podemos distanciar-nos ou virar-lhe as costas, mas não podemos dizer que não a temos.” (pág. 269)
É um livro que vale a pena conhecer. Atrevam-se e não se irão arrepender J

NOTA – 09/10

Sinopse
O Décimo Terceiro Conto narra o encontro de duas mulheres: Margaret, jovem, filha de um alfarrabista, biógrafa amadora, e Vida Winter, escritora famosa, que, sentindo aproximar-se o final dos seus dias, convida a primeira para escrever a sua biografia.
Na sua casa de campo, a escritora decide contar a verdadeira história da sua vida, revelando um passado misterioso e cheio de segredos. As duas vão partilhar vivências profundas, resgatando velhas memórias e confrontando-se com fantasmas há muito adormecidos.


Sem que pudessem inicialmente prever, acabam por entrelaçar as suas vidas de forma tão intensa, que o resultado não poderia ser outro que não uma inesquecível história de amor, amizade e solidão.

2 comentários:

  1. Olá!

    Excelente opinião! É mesmo uma leitura suculenta e maravilhosa. A forma como a história se vai comparando e tirando vida de livros como A Paixão de Jane Eyre é excelente. E as pistas estão lá todas e quase que nem se veem!

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá e sê bem-vinda! Como te disse, gostei mesmo muito desta obra, das suas protagonistas, da sua ligação aos livros e à literatura e de um enredo magnificamente construído. Lá terei que ler o outro livro que a Marcador tem publicado da autora, porque se for tão bom como este, vale mesmo a pena!
      Beijinhos e mais boas leituras como esta!

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