Sábado, 26 de dezembro de 2015
Opinião
Una
palabra tuya
veio cá para casa por empréstimo. Emprestou-mo a minha querida Nancy. Quando mo
entregou, alertou-me para o facto de que tinha detestado a personagem
principal, que havia sentido vontade de pôr o livro de lado e que só não o
fizera porque era a única obra que havia levado consigo de férias. Contudo, a
persistência não só levara a leitura a bom termo como também a havia brindado
com um desenlace surpreendente, que apaziguara a repulsa e aversão provocadas
pela protagonista e que a haviam levado a aconselhar-me a conhecer esta obra.
Recordo que em setembro, a propósito
da protagonista desta obra e do impacto estrondoso que me provocou Nada, de Carmen Laforet,
entabulámos uma deliciosa conversa com uma colega sobre o quanto nos perturbam
e bulem connosco personagens como Rosario (protagonista de Una palabra tuya) e como o facto de as mesmas serem
detestáveis e ao mesmo tempo enfeitiçadoras ser uma prova contundente da
mestria de quem as cria. Ora, não poderia estar mais de acordo com esse facto, porque
Rosario é realmente alguém que logo desde a primeira página da obra nos provoca
aquele trejeito de desagrado e até repulsa que fazemos quando estamos perante
uma pessoa, real ou ficcionada, que nada possui de cativante ou agradável.
Não gosta da sua cara nem do seu
nome. Não gosta do que vê ao espelho nem das recordações, sons e desilusões
associados à verbalização do seu nome. Não gosta da sua vida, não gosta dos
sonhos que não se concretizaram, não gosta de ter a seu cargo uma mãe a caminho
da demência e de esta sempre ter-se mostrado desiludida com as escolhas e os
atos da filha. Não gosta dos vários empregos que teve e muito menos daquele de
onde provém atualmente o seu sustento. Não gosta dos companheiros de trabalho e
não o esconde. Suporta com evidente fastio a companhia pegajosa de Milagros,
uma colega de infância e a quem deve não estar desempregada, e as torpes
tentativas de Morsa para ganhar um lugar na sua cama e mais tarde no seu
coração e na sua vida. Apesar de nada possuir que a destaque dos demais, exibe
constantemente uma superioridade e um distanciamento que a tornam o alvo
perfeito da chacota e da intriga alheia, bem como do desprezo dos leitores. Não há dúvida que é uma personagem irritante e a quem me
apeteceu “pregar um par de estalos” variadíssimas vezes ou simplesmente
virar-lhe costas e deixá-la a despejar as suas grandiosas verdades estereotipadas…
Rosario é tudo isto. Mas é também
uma mulher de quem não conseguimos deixar de ter pena e malgrado meu e de
muitos outros leitores (não é, Nancinha?) vontade de estender a mão e oferecer
algum consolo. Porque por debaixo daquela capa de superioridade, arrogância e presunção,
esconde-se uma mulher sofrida, desiludida consigo e com a vida e que apenas
quer aquilo que todos nós queremos – gostar de si e ser gostada pelos outros,
começando pelos seus entes queridos. Esconde-se uma mulher que colocou a
fasquia demasiada alto, mas cujo esforço sempre ficou aquém. Esconde-se uma
mulher que inibe os outros com a sua frieza. Esconde-se uma mulher que se
apercebe da importância que os demais têm na sua vida tarde demais. Esconde-se
uma mulher que tentará remediar o que ainda tem remédio, porque só a morte não
o tem.
Una
palabra tuya
oferece-nos assim uma obra crua, desoladora, com uma protagonista que nada tem
de heroína, mas de humana, com as suas contradições, os seus defeitos e os seus
sonhos. Está escrita num estilo muito direto, quase de confidência e consegue
agarrar-nos com uma mistura de emoções e um desenlace que compensa o desagrado
e enfados sentidos antes.
NOTA – 07/10
Sinopse
Rosario y Milagros son barrenderas y se conocen
desde niñas. Tan vulnerable en apariencia como firme pese a sus
contradicciones, Rosario relata los años transcurridos junto a esa fuerza de la
naturaleza que es Milagros; años de tropiezos, ilusión, miedo y realidades que
han dado forma al temor de no merecer ser felices. Una palabra tuya es el
retrato de dos mujeres, de dos trayectorias vitales, una hacia la nada más
cruel desde una vida triste y la otra hacia un futuro expectante desde una vida
redimida; y en medio, la piedad y el perdón.
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