Mar humano, de Raquel Ochoa


 Ficha técnica
         TítuloMar humano
         Autora – Raquel Ochoa
         Coleção – Os livros RTP
         Editora – Marcador
         Páginas – 239
       Datas de leitura – de 14 a 17 janeiro de 2016


             Opinião
         Mergulhei carregada de expectativas nas páginas deste romance. Não havia como não fazê-lo. Não depois de ter lido o que li no mundo da blogosfera literária e de consequentemente ter aproveitado uma promoção para ter o livro só para mim.
         Página após página a expectativa foi-se transformando em entusiasmo. Embarquei sem reservas no estilo da autora, o lápis sublinhou inúmeras passagens que rasgavam um sorriso na minha cara ou me faziam reagir que nem uma criança perante um doce muito docinho e vorazmente fui avançando na narrativa e acompanhando não só a vida de Samuel e Ema como a do nosso país debaixo das mãos tirânicas de Salazar e mais tarde de Marcelo Caetano. Tudo se conjugava, se encaixava de uma forma absoluta, perfeita, tal como eu tanto gosto. Por um lado, os amores dos protagonistas, a paixão que os une desde a adolescência e que talvez nunca se concretize, o cuidado e a inteligência com que a autora construiu Samuel e Ema como individuais e como par um do outro. Por outro, a aparente pouca importância dada às personagens secundárias (muitas apelidadas apenas de acordo com características profissionais ou sociais – “Médico sem sentimentos”, “Filha de Pai Rico”), o entrelaçar do quotidiano de personagens fictícias com um período interessantíssimo da nossa História, referências literárias (morte de Fernando Pessoa e citações de Miguel Torga) que me tocam como só eu sei.
         Tudo isto conjugado resultou numa sofreguidão que me impulsionou a devorar capítulo a capítulo até deter-me no último, aquele que já sabia estar predominantemente escrito em itálico, indício esse que fazia prever um desenlace surpreendente. E o surpreendente concretizou-se, é um facto. Mas, para grande frustração minha, estragou, amargou todo o entusiasmo e deleite experimentados até esse momento. Controlo-me para não soltar em letras o palavreado menos próprio que está na ponta da língua (em inglês ou em espanhol, porque sempre profiro mentalmente obscenidades em estrangeiro – é mais soft J), porque o referido último capítulo é tão desnecessário, caramba! Para quê acrescentar ficção científica e futurismos a uma história que tudo tem para ser memorável? Para quê estragar uma narrativa cativante, que chega a nós através de um estilo fresco, inteligente, com protagonistas e um contexto que nos atraem? Para quê, volto a perguntar.
         Admito que torci o nariz a determinadas passagens mais científicas e que estão associadas a Ema. Mas não lhes dei demasiado valor, simplesmente porque tenho dificuldade em apreender raciocínios matemáticos, químicos ou físicos. É certo que também senti o alarme (chamemos-lhe pressentimento de leitora compulsiva) a disparar quando me deparei com uma ou outra prolepse que deixava adivinhar o que aí viria. Mas confesso que nada me preparou para o que encontrei no desenlace, o que ainda tornou a deceção e a revolta muito maiores. Se o propósito da autora era terminar a obra dando uma bofetada de surpresa no leitor (sobretudo numa leitora crédula como eu), tenho que dar a mão à palmatória, pois conseguiu-o em pleno. Mas Raquel Ochoa que me perdoe o desabafo – não havia necessidade, carago!
         Por tudo isto, com o raciocínio toldado pela desilusão, nem sei bem que nota atribuir a esta leitura. Adorei inúmeras partes da obra, mas o desencanto neutraliza grande parte desse sabor doce…
         NOTA – 07/10 (após muito pensar)

         Sinopse
Mar Humano parte da ligação turbulenta entre duas pessoas e penetra em temas como a longevidade da vida humana, a responsabilidade que os sentimentos acarretam, a luta pela liberdade de expressão e o impacto da ciência na evolução da consciência. Um brinde à coragem de cada indivíduo em ser autor da sua própria vida.

2 comentários:

  1. Olá Ana,
    Gostei imenso da tua opinião. Apesar de tudo foi uma boa leitura.
    Já vi alguns livros desta autora e quero ler algum livro dela.
    Este ano quero ler mais autores portugueses.
    Beijinhos e boas leituras

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    Respostas
    1. Olá, Isaura!
      Sim, não posso deixar de concordar que foi uma boa leitura... E também quero ler mais desta autora para "afugentar" a frustração do desenlace deste "Mar humano".
      Beijinhos e boas leituras!

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