Ficha técnica
Título – Não nos deixes, Anni
Autora – Aili Konttinen
Editora – Portugália
Editora
Coleção – Biblioteca das
raparigas
Páginas – 240
Datas de leitura – de 24
a 25 janeiro de 2016
Opinião
De vez em quando dou comigo junto do
baú das recordações de infância e juventude e com muita vontade de levantar-lhe
a tampa e submergir nas deliciosas recordações que lá aguardam por mim. Desta
vez, saída de uma leitura agressiva e sofrida como foi a de Perguntem a Sarah Gross, o
estupendo romance de estreia de João Pinto Coelho, não pus freio a essa vontade
e deixei-me remexer nessas preciosidades que para mim não têm preço.
Fechei o baú com um livrinho manchado
pelo tempo nas mãos. A sua publicação data de 1965 e tenho quase a certeza
absoluta de que é impossível encontra-lo hoje nas livrarias. Nos alfarrabistas
talvez.
Não
nos deixes, Anni
está comigo desde a minha juventude, desde que um colega de trabalho da minha
mãe, conhecedor do meu vício pelas leituras, me entregou uma sacada de livros
sem dono após a morte da sua legítima proprietária e que não teria a quem os
dar. Ainda hoje os tenho todos. Li-os todos na altura da doação e agora,
passados todos esses anos, sinto um prazer especial em relê-los.
Este livrinho de 240 páginas
amarelecidas e com bastantes gralhas situa a sua ação nos países nórdicos,
sobretudo a Suécia e a Finlândia do pós Segunda Guerra Mundial. Traz-nos a
história de duas famílias ligadas por um acontecimento resultante desses seis
anos infernais de conflito – o recolhimento por parte de famílias suecas
abastadas de crianças finlandesas que estavam em riscos de perder a vida se se
mantivessem junto dos pais em território afetado pela guerra. Sendo assim, Anni
ou Aino foi uma dessas crianças que se viu apartada da família ainda muito
pequenina e cujos quatro anos seguintes foram vividos noutro país, com outros “papás”.
Terminada a guerra, a família Matinoja
pretende que a sua filha mais nova regresse ao seu lar. E é então com essa
viagem de regresso que a narrativa arranca e nos mostra de imediato o quão
penoso será esse retorno para uma menina que nada recorda dos seus pais
biológicos ou dos seus irmãos e para a sua família de adoção. Mostra igualmente
o outro lado, ou seja, a angústia, ansiedade e afogo daqueles que ficaram,
daqueles cujas caras, vozes Anni nada recorda, a não ser em sonhos fugidios.
Numa linguagem muito simples e sóbria,
adequada à faixa etária do público destinatário de obras como estas, a autora desenrola
o dia-a-dia da nova vida de Anni, o quanto este é diferente e mais humilde daquele
que deixou na Suécia, o sofrimento de uma menina habituada a ser o centro das
atenções, a ter tudo o que quer e que, ao atravessar uma fronteira geográfica,
se confronta com dois progenitores praticamente desconhecidos, uma língua da
qual já nada sabe e um estilo de vida bem mais modesto e rude. Somos igualmente
confrontados (e aí residiu a delícia desta releitura) com a dor e a tristeza
silenciosa de uma mãe que compreende ser uma estranha para a sua filhinha, mas
que, passo a passo, sem forçar, vai conquistando o lugar que merece no coração
desse ser pequenino que, anos antes, quis salvar das garras da guerra.
Não
nos deixes, Anni
foi assim um bálsamo que me aquietou e me fez sentir-me de novo preparada para
leituras mais exigentes, mais complexas, mais emocionais, mais doridas, mais
adultas. Cumpriu o seu propósito e só por isso abençoo o meu baú de recordações
e as ganas que, de quando em vez, me “forçam” a vasculhá-lo J
NOTA – 08/10
Sinopse
Anni,
garotinha finlandesa de seis anos, foi recolhida, durante a guerra, por suecos
ricos que a educaram como se fosse sua filha. Poderá voltar Anni a adaptar-se à
herdade familiar? A verdadeira mãe voltará a encontrar o coraçãozinho da
filha?...
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