Cinquenta e oito leituras que
perfazem um total de quarenta e sete leituras e onze releituras e um total de
quarenta e três livros lidos em português e quinze lidos na língua castelhana.
Números que demonstram claramente que 2015 foi um ano sensacional, um ano em
que bati recordes. De livros lidos e seguramente de livros adquiridos J Provavelmente nunca li tanto em 365
dias e coloquei assim a fasquia num patamar que vai ser difícil ultrapassar.
Tenho também a perfeita noção de que não refreei a vontade (quase viciante) de
comprar novos livros, que fiz questão de praticamente todos os meses adquirir
pelo menos um livro e assim preencher mais um buraquinho nas estantes que vão
ficando mais obesas.
Este amor um pouco doentio que devoto
aos livros resultou em leituras arrebatadoras, que despertaram em mim
sentimentos e sensações quase orgásmicas. Resultou igualmente em leituras
interessantes, em leituras algo banais e em outras (sobretudo uma) que não
recomendo a ninguém por tão intragável que é.
Felizmente o balanço que agora faço,
percorrendo a lista das cinquenta e oito leituras é mais positivo do que
negativo. Bem mais positivo do que negativo, já que se contam pelos dedos de
uma mão as obras às quais atribuí – numa escala de um a dez – uma nota abaixo
de cinco. Daquelas às quais atribuí uma nota mais alta, escolhi as dez que
considero terem sido as que mais me cativaram, as que ocupam e ocuparão um
cantinho especial na minha vida, que me marcaram intensamente e farão com que,
sempre que as recorde, os meus olhos se iluminem, um sorriso apareça no meu
rosto e sinta vontade de as reler uma vez. E outra. E outra.
Como 2015 foi um ano de releituras,
também fiz questão de eleger as cinco melhores. Aquelas que, com uma segunda
leitura, voltaram a aquecer-me e a despertar esse entusiasmo e frémito de virar
página atrás de página com a mesma emoção e magia com que o haviam feito
aquando da primeira leitura.
Ora aqui estão então elas, por ordem
cronológica, as leituras e releituras que recomendo vivamente, encarecidamente J:
(Clicando no nome da obra, poderá aceder-se à opinião/crítica completa)
LEITURAS
O melhor romance de João Tordo que já li. Sem dúvida alguma. É apogeu
da escrita deste jovem autor e prende-nos do princípio ao fim. A narrativa, as
personagens, o protagonista, a complexidade da sua construção, a tristeza que
cobre tudo de cinzento, os laivos de esperança que nos consolam no desfecho da
obra. E a Galiza e sobretudo a cidade de Pontevedra que tanto amo.
NOTA – 10/10
Alabardas, ou pelo menos os três capítulos que
a vida lhe deixou escrever, tem tudo aquilo que tanto aprecio e amo em Saramago
– “Um mundo reconhecível, saramaguiano, que, nos primeiros traços, evoca o
ambiente específico de Todos os Nomes e estabelece laços com o
período de escrita iniciado por Ensaio sobre a Cegueira” (pág.
94 – Fernando Gómez Aguilera).
Em apenas três capítulos estão
reunidos todos os ingredientes para uma daquelas narrativas, uma daquelas
leituras únicas, de tão absorventes e especiais que são. Como são as do meu
Saramago.
NOTA – 10/10
Primavera con una esquina rota confirmou o que já era uma
verdade incontornável – tendo lido apenas duas das suas obras, Mario Benedetti
entra definitivamente para a categoria dos meus autores favoritos.
O que faz de Primavera
con una esquina rota uma obra inesquecivelmente deliciosa é a forma
como Benedetti a conta, como se metamorfoseia em cinco personagens ao mesmo
tempo banais e únicas e nos dá a possibilidade de tudo sabermos delas, de
sermos os destinatários dos seus pensamentos, das suas esperanças, dos seus
medos, das suas dúvidas, enfim de os conhecermos como ninguém.
NOTA – 10/10
A vida quando era nossa é uma obra que nos toca, que
nos fala daquela maneira intensa ao coração. A sua história está escrita de uma
forma serena, tranquila, mas possui os ingredientes necessários para ser um
bálsamo para a alma e para mexer connosco: personagens cativantes, descrições
de épocas marcantes e sobretudo o lugar essencial que os livros ocupam na nossa
vida.
“«Quando te sentires sozinha, lê
um livro… Isso vai salvar-te.» Os livros têm de repente o tato redondo e húmido
de uma tábua de salvação.” (pág. 272)
NOTA – 09/10
O mistério e o pouco que se sabe
sobre esta fantástica autora associam-se a uma obra que abre uma tetralogia que
nos prende desde o início e que nos atinge com um tsunami de emoções.
Este primeiro volume narra a infância
e adolescência das duas amigas, sobretudo na perspetiva de Elena, a sua
narradora. Acompanhamos o turbulento início da amizade, a cumplicidade das
duas, o seu afastamento por causa dos dissabores da vida e um reaproximar que
fica momentaneamente interrompido por um final intenso e que nos deixa em
desespero, numa ansiedade louca pelo volume que se segue. Em linhas gerais este
será o resumo (muito resumido) da trama da obra. Contudo, o que nos prende, o
que nos agarra, o que nos verga perante o talento indiscutível desta autora
italiana é muito mais do que isto…
NOTA – 09/10
Mais vale dizê-lo – esta foi a obra
de 2015. É sublime do princípio ao fim. Por tudo, tudo, tudo.
A esta leitura só posso dar-lhe nota
máxima e desejar que o maior número possível de leitores a leia! Comprem a
obra, peçam-na emprestada, requisitem-na numa biblioteca, mas, por favor,
leiam-na!!! É um hino ao que mais preze na literatura, no sabor dos livros!
NOTA – 10/10
Toda a luz que não podemos ver é uma obra impressionante.
Arranca de uma forma algo lenta, morna, é verdade, mas mexe na chaga que foi a
Segunda Guerra Mundial sem recorrer à descrição de combates ou do holocausto
judeu. Dá-nos a perspetiva dos dois lados através de exemplos daqueles que uma
doutrina totalitária pretende moldar ou aniquilar – os detentores ou sôfregos de
sonhos, de conhecimento, de oportunidades de saber mais. Com uma linguagem
cuidada, poética, que evidencia o poder das palavras (com poucas podemos dizer
tanto…), levou-me a experimentar os mais variados sentimentos e a entregar-me
toda à leitura – como sempre o faço quando esta merece.
NOTA – 09/10
Stoner foi publicado em 1965 e, tal
como o seu protagonista, caiu rapidamente no esquecimento. Em 2013 foi aclamado
o melhor livro do ano pelos leitores de uma livraria britânica. Eu tomei
conhecimento da sua existência apenas este ano, numa das conversas “sumarentas”
que tenho com a minha compincha literária, Nancy. Adquiri-o em agosto e só
agora em novembro preencheu as minhas horas literárias. Demorei seis dias a
lê-lo e ainda hoje, enquanto escrevo isto e já tendo outra obra a fazer-me
companhia, sinto William Stoner aqui ao lado. E sei a razão por que ainda não
me abandonou. Porque é bom, mesmo muito bom.
NOTA – 09/10
194
páginas de Benedetti. 194 páginas que durante estes cinco dias estiveram à
espera de que eu encontrasse aquele “ratito de tiempo” para mergulhar
nelas, perder-me nelas. 194 páginas que saboreei sempre com um sorriso nos
lábios e com o lápis na mão. 194 páginas recheadinhas de partes sublinhadas, de
setinhas, de corações, de carinhas felizes. 194 páginas que cumpriram com as
mais altas expetativas e que consequentemente me levaram a “atazanar” o
maridinho com comentários vezes sem fim repetidos – “Delicioso”; “Este homem é
fantástico”; “Já te disse que adoro, adoro Benedetti?”; “Isto é mesmo, mesmo
bom”.
NOTA
– 10/10
É uma obra que me abalroou. Que se
entranhou em mim como uma explosiva história de amor. Ou que se me meteu no
corpo como África se mete nas entranhas e na alma de quem algum dia pousou os
pés nas suas terras e de lá mais não quis regressar.
É uma daquelas narrativas que nos
arrepia, que nos emociona e que não nos abandona. Extraordinária. Perfeita.
NOTA – 10/10
RELEITURAS
Cinco quartos de laranja é talvez a minha obra preferida
desta autora. A sua protagonista é uma personagem complexa, sofredora, dorida,
enraivecida, torturada por um passado carregado de lembranças pungentes e que
condicionaram a sua vida até ao momento presente. E é uma personagem a quem, de
imediato, estendi a mão. Para, mesmo perante a sua esquivez e olhar
desconfiado, mostrar compreensão, solidariedade. Empatia.
O que determinou a minha vontade de
reler Cinco quartos de laranja foi a certeza de que uma
sua segunda leitura não me defraudaria. E realmente não me defraudou.
NOTA – 09/10
Não sou grande admiradora de contos.
Penso sempre que são como dar um docinho a uma criança e tirá-lo a meio, quando
se está a lamber a boca, a saborear a doçura e já a salivar de prazer J Mas
tenho que confessar que todos os contos de Os Peixes da Amargura conseguiram,
apesar do seu título “amargo”, deixar-me um sabor pleno e muito aprazível na
alma. Porque transmitem-nos emoções, convidam-nos a entrar na vida quotidiana
da gente basca, de homens e mulheres que conviveram e convivem de perto com a
luta fratricida por um objetivo, pelo nacionalismo e independência de uma
região que se sente sufocada pelo poder central.
NOTA – 09/10
Depois de tu partires foi a estreia literária de
Maggie O’Farrell e, na minha opinião, a sua melhor obra das três que tenho
dela. Tem aquele condão, aquela magia, aquela sedução aos quais não consigo nem
quero resistir. Ofereceu-me uma das mais belas histórias de amor que já li,
aliada a uma narrativa, que podemos apelidar de secundária, mas que não é menos
importante, pois “vai-nos revelando como pode ser vasto, imenso, o opaco
continente do não-dito, dos mais secretos e obscuros recantos do universo
familiar.”
Obra belíssima e que tenho
mesmo que recomendar!
NOTA – 10/10
Amores plenos, sensuais, poderosos e
tão apaixonantes, tão extraordinários que ficam na memória; dois países e duas
épocas entrelaçados que, combinados com personagens inesquecíveis produzem uma
obra belíssima, perfeita. Uma releitura intensa e deliciosa.
NOTA – 10/10
Esta obra, como outras que já reli de
Joanne Harris tem um magnetismo, uma capacidade, uma mestria de me satisfazerem
por completo e de me “obrigarem” a não parar de as ler. É fascinante, de certa
forma original, com temas e cenários nada banais e com personagens fortes,
marcantes, que ao carregarem uma bagagem sofrida, não nos deixam indiferentes,
pelo contrário, levam-nos a querer ampará-las, a estender-lhes a mão e a fazer
a caminhada necessária ao seu lado.
NOTA – 10/10
Olá Ana,
ResponderEliminarQue bom que foi o ano passado! É sempre bom fazer um balanço do que lemos :)
Que venha 2016 cheio de muitas e boas leituras.
Desejo-te um excelente ano com tudo de bom.
Beijinhos e boas leituras
Obrigada, minha querida! 2015 foi de facto um ano muito marcante e só espero que 2016 lhe siga as pisadas :)
EliminarTambém desejo que este novo ano te traga o melhor que a vida nos pode oferecer e que continuemos "a ler-nos e a seguir-nos" como temos feito até aqui.
Beijinhos e boas leituras.