Ficha técnica
Título – A vida secreta das abelhas
Autora – Sue Monk Kidd
Editora – Edições ASA
Páginas – 285
Datas de leitura – de 12
a 16 de fevereiro de 2016
Opinião
Há
leituras que nos aconchegam. Que nos confortam e nos aquecem como uma mantinha
nas pernas, lareira acesa e uma quentinha chávena de chá. Que nos mimam com
aquele carinho que sempre cai bem.
Ora,
A vida secreta das abelhas
proporcionou-me essa leitura. Depois de sair a custo do mundo cru e violento da
Nápoles de Elena Ferrante, emigrei para o outro lado do Atlântico e
encontrei-me no sul dos anos 60 de uns Estados Unidos a borbulhar de tensões
raciais. Contudo, o objetivo era escapar de ambientes tensos de ódio e
violência e submergir-me em vidas e histórias que cheirassem e me deixassem na
boca o sabor doce, suculento e fresco de que tanto necessito para quebrar o dorido,
o amargo e o áspero das vidas de Lena e Lila da tetralogia de Nápoles.
Confesso
que até ter relido a outra obra de Sue Monk Kidd que tenho (ver opinião
completa aqui), não me lembrava em absoluto de que tinha A vida secreta das abelhas nas minhas estantes. Foi-me
oferecida há mais de dez anos (andava eu grávida do meu D. – a dedicatória
confirma-o) e nada recordava – nem quem ma tinha oferecido nem se já a havia
lido. Agora que a devorei em pouco mais de quatro dias e ter confirmado que
sim, já a havia lido (há gralhas corrigidas com a minha letra), não consigo
encontrar justificação para tão “cruel” esquecimento… A não ser o número
significativo de leituras que entretanto passaram pelas minhas mãos… Mas nem
essa justificação me convence… Porque por muito que tenha lido, a história e as
personagens deste romance aqueceram-me a alma, coloriram os dias cinzentos e
tormentosos que nos ofereceu fevereiro e confirmaram-me o quão mágico e deleitoso
é o sentimento de pertença, de fazer parte de uma família (biológica ou não),
que nos acolhe nos seus braços e nos faz sentir que somos de alguém.
Como
nos refere a sinopse, esta magnífica obra de Sue Monk Kidd constrói o seu
enredo à volta de uma frágil menina órfã de mãe e que pouco ou nada sabe do
que é ser amada. Tomada por um impulso, foge de casa, não sem antes cometer
(mais) um crime. Não empreende a fuga sozinha. Liberta a sua criada e amiga
Rosaleen (presa por se ter insurgido contra uns brancos que se meteram no seu
caminho e a insultaram) e as duas deitam-se ao caminho. Quis o destino que esse
caminho as levasse até a uma casa, pintada de rosa vivo, onde vivem três irmãs
negras que se dedicam a amar-se e a proteger-se umas às outras e ao negócio das
abelhas.
Será
nesse lar contaminado pela doçura e pelas características paliativas do mel e
da vida rotineira das abelhas que Lily descobrirá as respostas para todas as
suas perguntas e angústias e sobretudo aprenderá que o amor está nas pequenas
coisas, nos detalhes sem importância e nos braços, colo e olhar de três irmãs,
cuja maravilhosa excentricidade é o espelho do que devem ser os laços que unem
aqueles que se querem.
É
óbvio que se pode catalogar esta obra como predominantemente feminina, já que
nos apresenta um punhado de mulheres fortes, determinadas, que vivem em
comunidade, tal e qual como se fossem uma colmeia, na qual os zangões têm uma
participação algo secundária, mas ainda assim significativa, e cujas ações e
atitudes demonstram a umbilical ligação que as une. Contudo, creio que, apesar
de lhe colarmos esse rótulo, A vida
secreta das abelhas é um hino à vida, à vida que não deixa de ser doce,
apesar das agruras de contratempos mais ou menos importantes, e a esse
sentimento que já referi – ao sentimento de pertença, de se sentir parte de
alguém, de um espaço, de uma comunidade onde o que mais importa é o amor.
“É esse o instante que invoco com maior
nitidez – eu, parada na alameda, virada para elas. Lembro-me delas ali, à minha
espera. Todas aquelas mulheres, todo o seu amor, à espera.” (pág. 283)
Concluo
dizendo que, tendo sido releitura ou leitura desta vez com olhos de ver, de
reparar, as páginas impregnadas de doçura de A vida secreta das abelhas aquietaram o meu coração,
varreram o mau-humor, os sentimentos amargos e os dias de tormenta para um
canto e propiciaram aquilo que tanto busco numa leitura – mudanças (por muito
pequeninas que sejam) em mim própria e aquela ânsia aflitiva que me assalta
frequentemente – a de tocar, de abraçar, de olhar e de mimar aqueles que me são
tudo.
Foi,
sem dúvida alguma, uma leitura muito emocional e, como tal, tenho que dar-lhe
nota máxima!
NOTA
– 10/10
Refiro
ainda que, com esta obra, participei no desafio a decorrer no Goodreads – Maratonas, Desafios e Leituras conjuntas –
Ler cinema – pois A vida secreta
das abelhas foi adaptada ao grande ecrã em 2008. Deixo-vos o link para
o correspondente trailer:
Sinopse
Um romance sobre o poder
transcendente do amor e a faceta feminina de Deus. Uma história que as mães
gostarão de contar às filhas.
Lily cresceu na
convicção de que, acidentalmente, matou a mãe quando tinha apenas quatro anos.
Do que então aconteceu, ela tem não só as suas próprias recordações mas também
o relato do pai. Agora, aos catorze anos, tem saudades da mãe, a quem mal
conheceu mas de quem recorda a ternura, e sente uma desesperada necessidade de
perdão. Vive com o pai, violento e autoritário, numa quinta da Carolina do Sul,
e tem apenas uma amiga, Rosaleen, uma criada negra cujo semblante severo
esconde um coração doce. Na década de 60, a Carolina do Sul é um sítio onde a
segregação é ainda realidade. Quando, ao tentar fazer valer o seu recém-
-conquistado direito de voto, Rosaleen é presa e espancada, Lily decide agir.
Fugidas à justiça e ao pai de Lily, elas seguem o rasto deixado por uma mulher
que morreu dez anos antes e encontram refúgio na casa de três excêntricas irmãs
apicultoras. Para Lily esta vai ser uma viagem de descoberta, não só do mundo,
mas também do mistério que envolve o passado de sua mãe.
"A Vida Secreta das
Abelhas" é um romance sobre o poder transcendente do amor e a faceta
feminina de Deus. Sue Monk Kidd, ao escrever sobre o que é misterioso, e até
difícil, na vida, ilumina tudo o que esta tem de maravilhoso. Ela prova que uma
família pode ser encontrada nos sítios menos prováveis – talvez não sob o nosso
próprio teto, mas no sítio mágico onde encontramos o amor.
Olá Ana,
ResponderEliminarTambém tenho este livro na estante por ler há tanto tempo que já não me lembro desde quando.
E agora com a tua opinião fiquei ainda mais motivada para o ler.
Beijinhos e boas leituras
Isa, acredita, vale mesmo a pena lê-lo! Ainda mais como mães que somos!... Resgata-o da estante que não te arrependerás :)
EliminarBeijinhos e boas leituras!
Nunca li esta autora mas depois de ler a tua opinião fiquei com vontade de o fazer. Parabéns pelas 16000 visualizações e gostei do novo visual da página, ficou mais bonito e atraente.
ResponderEliminarOlá de novo!
EliminarNão te arrependerás se o leres. Recomendo-o mesmo!
Muito obrigada - já andava há tempos para dar uma lufada de ar fresco ao "design" do blogue :) Ainda bem que gostas!
Beijinhos e boas leituras!