Ficha técnica
Título – Vamos aquecer o sol
Autora – José Mauro de
Vasconcelos
Editora – Booksmile
Páginas – 320
Datas de leitura – de 31
de janeiro a 04 de fevereiro de 2016
Opinião
Zezé,
o menino do pé de laranja-lima, entrou na minha vida em 2014, mais propriamente
nos poucos dias de outubro que tardei em ler e em comover-me com a sua infância
dura e problemática e com uma capacidade que o permite evadir-se dessa
realidade negra e levar a sua imaginação aos limites. Como não podia deixar de
ser, Meu pé de laranja lima
foi uma das melhores leituras que fiz em 2014 (ver a opinião completa aqui) e,
por isso, explodi de alegria quando soube que a história de Zezé tinha
seguimento na obra Vamos aquecer o sol!
Neste
segundo volume de carácter autobiográfico, Zezé está mais crescido e está a viver
na cidade de Natal, em casa de da família do padrinho, que o acolheu para
proporcionar-lhe a oportunidade de prosseguir estudos e assim conseguir ter um
futuro melhor que o dos seus irmãos, que desde tenra idade, já trabalham horas
a fio numa fábrica.
Apesar
de já não passar necessidades, de não apanhar surras monumentais pelas
diabruras que pratica e de todos o incentivarem ao estudo, Zezé continua a ser
o menino franzino, precoce e que mendiga ternura. Vive numa casa confortável,
pode ir ao cinema uma vez por semana, pode brincar com o mar, mas o seu coração
do tamanho do mundo sofre por falta de afeto, da atenção e do carinho de um pai
e de uma mãe.
“–
Queria um pai que fosse ao meu quarto me
dar boa-noite. Que passasse a mão na minha cabeça. Que entrasse no meu quarto
e, quando eu estivesse descoberto, me cobrisse de mansinho. Que me beijasse o
rosto ou minha testa desejando que eu dormisse bem.” (pág. 58)
Como
mãe que retira um prazer indescritível sempre que todas as noites leva a cabo estas
ternuras tão simples mas tão gostosas, voltei a sentir o coração apertadinho ao
ler passagens como estas, voltei a querer que Zezé tivesse o que qualquer
criança tem direito – um afago, uma ternura, uma meiguice de um pai e de uma
mãe. Voltei ainda a constatar que o meu filhote é uma criança feliz porque
felizmente lhe calharam uns progenitores que não se poupam no que diz respeito
a mimo. Que lhe dizem frequentemente o quanto ele é especial e importante
(apenas porque é nosso filho) e que lhe esbanjam mimos, beijos e atos tontinhos
de amor.
Carente
de ternura, Zezé torna a encontrar no seu fértil mundo imaginário consolo para
essa falta de amor. Desta vez, não será um pé de laranja-lima. Será um
sapo-cururu que lhe habita o coração e com quem fala e desabafa continuamente e
também um dos seus atores favoritos – Maurice de Chevalier – que lhe entra no quarto,
se senta numa poltrona, lhe abre os braços e se transforma no pai de que Zezé
tão desesperadamente necessita.
Outra
figura preponderante na existência de Zezé é o irmão Fayolle. De carne e osso, professor
no colégio marista, vela por ele com desvelo. Acede às suas vontades, ri-se das
suas traquinices, protege-o quando o castigo por essas traquinices é pesado e é
o único a quem Zezé confessa tudo o que lhe vai na alma, inclusive a existência
dos seus dois amigos imaginários.
A
narrativa desenrola-se assim com uma mágica e ternurenta mistura de realidade e
imaginação e permite-nos acompanhar o crescimento de Zezé, o seu desabrochar
num rapaz que combate a debilidade física com braçadas vigorosas no mar, que continua
a ser detentor de uma aguda inteligência, que se evade de um presente
insatisfatório e edifica em sonhos os projetos mais mirabolantes e que
desespera professores, familiares e vizinhos com travessuras diabólicas. Ao
mesmo tempo que tudo isto nos é contado de uma forma muito gostosa (e há que
ler “gostosa” com sotaque brasileiro, porque é muito mais gostoso J), não conseguimos desprender-nos do
seu protagonista, da sua doçura, da sua fome de ternura, da sua generosidade,
do seu coração de menino que não acompanha a passagem dos anos e sobretudo de
uma vontade louca de o apertar nos nossos braços e oferecer-lhe esse amor que
tanta falta lhe faz.
Vamos aquecer o sol é o desenlace que todos aqueles que
se apaixonaram por Zezé como eu desejavam. Possibilita-nos encerrar esta doce
narrativa com um sorriso nos lábios (o que não acontece com O meu pé de laranja-lima) e
acreditar que para tudo há esperança – é só preciso abrir o coração, afastar as
nuvens carregadas e deixar que o sol que nos habita possa aquecer-se. Com
ternura, companheirismo, comunhão apaziguamento, aceitação e otimismo face ao
que está por vir.
Deixem-se,
como eu, conquistar pelo Zezé!!! É um favor que nos fazemos a nós próprios J
NOTA
– 09/10
Sinopse
Nesta sequência de Meu Pé de Laranja Lima, Zezé
enfrenta agora a pré-adolescência. Para escapar da fome e da pobreza, vai morar
em Natal com a família do padrinho. Rebelde e endiabrado, ele tenta fugir da
disciplina imposta pelos pais adotivos.
Olá Ana,
ResponderEliminarQue livro tão bonito! Esta personagem, Zezé, marcou muitos leitores com a sua doçura. Fiquei a conhecer este livro por ti e agora estou muito curiosa em o ler. Espero que seja este ano.
Sem dúvida, uma história que marca.
Beijinhos e boas leituras
Olá!
EliminarZezé é realmente inesquecível e adorei voltar a estar na sua companhia - mais crescido, mas com a mesma dose de travessura, de inocência e de doçura!
Espero que também voltes a derreter-te com ele :) Não te arrependerás!
Beijinhos e boas leituras!
Obrigado, Ana. Vou ler mesmo. ;-)
ResponderEliminarOlá, José! E bem-vindo!
EliminarLê, porque não te vais arrepender! O Zezé é uma personagem que ficará sempre com o leitor! Sempre!
Beijinhos e volta sempre!