O últimos dos nossos, de Adélaide de Clermont - Tonnerre

Ficha técnica
TítuloO últimos dos nossos
Autora – Adélaide de Clermont-Tonnerre
Editora – Clube do Autor
Páginas – 410
Data de leitura – de 01 a 09 de dezembro de 2017


Opinião
Esta obra foi um dos miminhos que recebi da editora Clube do Autor durante o mês de novembro. Voltei a quebrar a minha mania das leituras cronológicas, mas apenas consegui lê-la no início de dezembro.
Senti de imediato uma atração pela sua capa e uma vontade irresistível de mergulhar na narrativa que sabia, através da sinopse, que se dividiria entre a Alemanha dos finais da Segunda Grande Guerra e os Estados Unidos dos efervescentes finais dos anos 60 e dos princípios dos anos 70. Não pude deixar de reparar noutro pormenor significativo – na capa, logo abaixo do título, está referido que este romance foi galardoado com o “Grande Prémio do Romance da Academia Francesa”. Três ingredientes que, em suma, apontavam logo à partida para uma leitura poderosa e intensa, bem à minha medida.
As expectativas criadas à volta destes ingredientes foram em grande parte cumpridas. Não o foram plenamente porque não me recordo de ter antipatizado tanto e de forma tão imediata com um protagonista como antipatizei com Werner Zilch. Não sei se a autora o dotou de características tão anti-heroicas de forma intencional, se o discurso machista e as atitudes altaneiras que o caracterizam são propositados, mas tudo o que está por detrás da personagem de Werner deixa qualquer leitor, sobretudo as mulheres, em polvorosa, com uma vontade incomensurável de o esbofetear, de o esmurrar, de espetar um pontapé em determinadas partes do seu corpo. A sua sobranceria, a sua arrogância, a sua presunção, o seu egocentrismo são tão insuportáveis que tive inúmeras vezes de respirar fundo, parar a leitura e relembrar-me a mim mesma que Werner Zilch era apenas uma personagem fictícia e que quem estava ao meu lado ou mesmo o pobre do livro não tinham culpa nenhuma disso…
Confesso que estas características nada abonatórias da personagem principal me fizeram frequentemente pensar em abandonar a leitura. Contudo, essa vontade foi desaparecendo à medida que ia avançando na mesma e ia gostando do que lia. Assim, fui paulatinamente dando menos importância ao carácter de Werner e apreciando o que de bom me ia oferecendo a narrativa. E as partes boas foram ganhando terreno, foram sobrepondo-se e no final, ao desfolhar a última página, felicitei-me por não ter desistido de ler a obra, porque o seu contexto histórico, bem documentado, a possibilidade que me deu de, por um lado, conhecer da agonia por que passou a Alemanha nos anos de 1944 e 1945, quando a guerra estava definitivamente perdida e, por outro, de acompanhar o florescimento económico dos Estados Unidos dos anos sessenta e setenta foram motivos mais do que suficientes para agradecer de forma ainda mais sentida esta generosa oferta da editora Clube do Autor.
Referi no início desta opinião que a trama se desenrola em dois espaços e dois tempos distintos. Já fiz também referência ao seu protagonista e ao quanto este me marcou. Sinto que devo ainda fazer referência ao seu título e ao quanto este está associado, no meu ponto de vista, ao desaparecimento de uma geração de alemães de boas famílias, de homens e mulheres que se viram envolvidos numa guerra com a qual não concordavam e que os fez perder tudo. O último dos nossos foi o que restou dessa geração, alguém que pode inclusive nem saber de onde vem nem quem foram os seus antepassados, alguém criado noutro lugar, por outra gente e que cresce sem ter noção alguma de quem foram, por exemplo, os cientistas que estiveram por detrás da invenção dos mísseis balísticos V2, por que razão esses cientistas e outros elementos do partido nazi foram acolhidos pelos Estados Unidos logo após o final da guerra ou que os horrores praticados em Auschwitz não se resumiram apenas ao envio massivo de judeus para a morte nas câmaras de gás. Alguém que, resumindo, é o último elemento de uma história riquíssima, de uma história com contornos verídicos e ficcionais e que ajuda qualquer leitor a enriquecer-se enquanto tal e enquanto cidadão de um mundo que se viu virado do avesso há uns setenta anos atrás por uma contenda que ninguém deve esquecer nunca.
Termino dizendo que gostei desta leitura, apesar do seu protagonista. Gostei muito da sua contextualização histórica e de ter aprendido um pouco mais de uma época que, por muito que leia sobre ela, me irá continuar a fascinar. Por isso, por ter gostado e por achar que outros também poderão gostar, recomendo-a, principalmente aos amantes de literatura histórica e aos que apreciam uma tórrida e tempestuosa história de amor, como a que une Werner à sua amada Rebecca.
Agradeço mais uma vez à editora Clube do Autor o envio da obra e a confiança que deposita em mim e no meu cantinho!

NOTA – 08/10


Tal como disse, este livro foi-me disponibilizado pela Editora Clube do Autor em troca de uma opinião sincera. 


Sinopse
Dresden, 1945: sob um dilúvio de bombas, uma mãe agoniza para dar à luz o seu filho. Manhattan, 1969: um homem encontra a mulher da sua vida no coração da Big Apple.
Do inferno da Europa, em 1945, à Nova Iorque hippie. Neste romance premiado com o Grande Prémio do romance da Academia Francesa, Adelaide de Clermont-Tonnerre conta a história dos anos loucos vividos na pele por dois genuínos filhos do século XX: Werner Zilch, nascido na Alemanha no estertor da Segunda Guerra Mundial, e Rebecca Lynch, herdeira de um homem de negócios e de uma mulher que logrou escapar com vida ao campo de concentração de Auschwitz. Uma paixão louca e proibida num cenário histórico repleto de reviravoltas e marcado pelo suspense.
Werner Zilch é um jovem carismático e empreendedor. Adotado desde tenra idade, vê-se confrontado com a descoberta das suas origens, tudo menos gloriosas. Aos olhos dos outros, pode ser considerado responsável pelos erros cometidos pelos seus antepassados? Como aceitar que o seu progenitor estivesse ligado ao nazismo?
A par das personagens, surgem nomes que os leitores por certo reconhecerão, todos eles figuras marcantes do seu tempo. A saber: Andy Warhol, Truman Capote, tom Wolfe, Joan Baez, Patti Smith, Bob Dylan...

2 comentários:

  1. Tenho este ali de lado nas leituras pendentes, mas ao ler esta opinião até fiquei com vontade de o ir buscar e iniciar a leitura ;)

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    1. Olá, Liliana e bem-vinda!
      Acho que deves dar azo a essa vontade ;) O meu marido incluiu a obra nas suas melhores leituras de 2017 e se gostas de narrativas históricas, vai em frente!
      Beijinhos e volta sempre!

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