Março
foi o primeiro mês ao qual dediquei um tema. Nunca o tinha feito aqui no blogue
e decidi fazê-lo após ter visto em vários blogues que vou seguindo a sugestão
maravilhosa de fazer de março um mês de leituras apenas femininas, ou seja,
leituras de obras escritas por autoras.
Pus
mãos à obra e nos primeiros instantes do mês anotei no meu caderninho as obras
que tencionava ler – três da minha estante e duas que viriam da biblioteca. A
estas cinco acabou por juntar-se uma mais, também ela vinda da biblioteca
municipal.
A contadora de histórias, de Jodi Picoult, foi a que arrancou o
mês temático. Foi apenas a segunda obra que li desta autora, mas
proporcionou-me uma experiência bem mais interessante e proveitosa do que a sua
antecessora. Relata-nos a história de Sage Singer e de Josef Weber. Ela é uma
jovem padeira, em processo de luto pela morte da sua mãe e conhece Josef num
grupo de apoio a enlutados. Os dois tornam-se amigos e é com base nessa amizade
que ele lhe pede que Sage o ajude a morrer, porque está na hora de terminar uma
longa vida de culpa, de horror, de crimes e mortes. A premissa é, como podem
comprovar, muito entusiasmante e conduziu-me a uma leitura ávida e empolgante
que apenas perdeu algo desse empolgamento no seu desenlace, pois custou-me a
engolir o final que a autora reservou para Sage. Contudo, atribuí-lhe ainda
assim uma nota quase perfeita – 09/10.
A
segunda leitura foi uma que já me esperava há mesmo muito tempo na estante. E
caramba, a espera valeu mesmo a pena, pois adorei de paixão conhecer a escrita
envolvente e poética de Marlene Ferraz e saborear com uma sofreguidão
propositadamente controlada A vida
inútil de José Homem! É uma obra curtinha, mas contém tudo o que é
necessário para marcar-nos e ficar connosco! Dei-lhe nota máxima pela escrita
que me confortou, pelas personagens imperfeitas mas inesquecíveis e por
fragmentos e citações que não me abandonarão!
A herdeira dos olhos tristes, de Karen Swan, trouxe uma lufada de
leveza e ligeireza às leituras de março. Não me foi nada difícil entrar na sua
narrativa, viajar por várias partes do mundo, viver durante uns dias na
lindíssima (e algo caótica) cidade de Roma e conhecer duas mulheres
fascinantes, com segredos que querem a todo o custo ocultar dos demais. Em
quatro dias devorei 460 páginas e no final senti que não tinha perdido o meu
tempo. Pelo contrário, senti que esta leitura tinha vindo na altura certa – não
só quebrou uma série de leituras mais densas e com temáticas mais pesadas, como
também me ajudou a suportar uma segunda metade do mês sufocante. Atribuí-lhe a
nota de 08/10.
Da
biblioteca veio Jane Eyre, de
Charlotte Brontë. É óbvio que a história desta protagonista não me era
desconhecida, mas só há pouco tempo é que me tinha apercebido de que nunca
havia lido a sua história integral, que a obra que tinha – e tenho – em casa é
uma adaptação juvenil e, como tal, mais curta, com supressões de partes talvez
menos importantes. Ora, esta leitura integral foi outra das experiências
perfeitas que me reservou o mês de março. Deliciei-me com o recuo no tempo, com
a diferença de estilos de escrita que claramente existe entre um autor ou
autora do século XIX e um ou uma do século XXI e acima de tudo com a
protagonista. Jane Eyre é uma mulher do caraças e, se pensarmos que é uma mulher
do caraças no seu tempo, ainda o é mais se fizermos a indispensável comparação
entre ela e alguém do sexo feminino dos nossos tempos! Nota máxima, sem dúvida!
Também
da biblioteca trouxe uma recomendação da Bárbara. Tanta gente, Mariana permitiu-me entrar pela primeira vez no
mundo literário de Maria Judite de Carvalho e entabular uma viagem por oito
contos prenhes de solidão, de dor, de sonhos gorados e de muita, muita
desesperança. Como buscadora ávida de leituras que me tragam emoções fortes,
que me abanam, só posso dizer que gostei imenso desta experiência leitora e que
quero ler mais da autora. Dei-lhe um 09/10, apenas porque nem todos os contos
têm a força e o impacto que tem aquele que dá título à obra.
A
última leitura do mês foi também uma recomendação e veio de impulso da
biblioteca. Falo-vos de Caderno de
memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, que me levou de novo à
África colonial, desta vez a Moçambique e me possibilitou saber mais sobre a
infância e adolescência da autora, já que a obra é autobiográfica. Senti-me
inevitavelmente chocada com a acidez e a crueza da linguagem da narrativa, com
a forma como a autora parece precisar deitar cá para fora tudo aquilo que preenche
o Caderno, mas ao choque
seguiu-se o contentamento, pois é destas leituras que ando sempre à procura, de
leituras fortes, controversas e que são um reflexo da vontade de pôr o dedo na
ferida (pessoal e social) e escarafunchar na mesma. Mais uma vez não atribuí
mais do que um 09 a esta experiência porque sou uma picuinhas e achei desnecessária
a inclusão na obra de cinco posts (provenientes do blogue pessoal da autora) e que
pouco ou nada têm a ver com a temática das memórias coloniais.
Seis
leituras femininas e excelentes. Duas leituras perfeitas, três às quais atribuí
um 09 e uma a que dei um 08. Que mais poderia eu querer? Esta primeira experiência
temática foi tão, tão proveitosa e suculenta que me vi obrigada a seguir com
ela para abril que, como já devem saber, está a ser o mês da literatura
espanhola!
Antes
de terminar este balanço, refiro que voltei a não pecar em março. Não comprei
nenhum livro para mim, embora tivesse que morder-me todinha muitas vezes e
aguentar-me estoica, firme, sempre que entrava numa livraria! Sendo assim, o
único livro novo que caiu na estante foi um presente de Páscoa do meu querido
afilhadinho! Obrigada, Gonçalinho, tu sabes o quanto os olhos da madrinha
brilharam quando desembrulhei o presente e vi que era A resistência, de Julián Fuks! AMEI!!!
Termino
deixando-vos, como é habitual, os links para acederem à
opinião completa das obras lidas em março:
E
vocês, que leram? E que pretendem ler em abril? Fico à espera das vossas
respostas!
Desses também li Jane Eyre, e confesso que é um livro que me divide muito... tenho sentimentos negativos fortes relativamente a muito do livro, o que faz com que toda a gente ache que o odeio, o que não é verdade :D mas pronto. Da primeira vez que o li, há mais de dez anos, tinha lido essa versão juvenil também!
ResponderEliminarBom, também tenho essa mistura de sentimentos face ao "Monte dos Vendavais", mas quero ver se os esclareço com uma releitura. Depois conto-te.
EliminarBeijinhos!
Eu o Jane Eyre li duas vezes, teima tirada :) já o Wuthering Heights absolutamente adoro! Acho (numa de, tenho visto acontecer) que a maioria das pessoas adora um e tem mixed feelings quanto ao outro :)
EliminarTenho mesmo que tirar a teima! Hei-de aproveitar um mês destes para dedicá-lo aos clássicos e aí pego no Wuthering Heights - fica a promessa!
EliminarOlá Ana,
ResponderEliminarFoi um mês muito bom. Estou a tentar comprar o "Tanta Gente, Mariana", mas acho que está esgotado :( queria tanto na minha estante. Como já sabes adorei "A Contadora de Histórias".
Um beijinho e boas leituras
Oi, querida!
EliminarTrouxe-o da biblioteca e ainda não cusquei nada à procura dele, mas fico triste por estar esgotado e ninguém das editoras fazer nada para remediar a situação... Enfim...
Se te pedisse que me recomendasses outra obra da Jodi Picoult para testar o quanto ela me pode surpreender, qual me recomendarias?
Beijinhos e leituras muito saborosas!
Isa, o "Tanta Gente, Mariana" estava disponível numa chancela da Babel e na BIS da Leya no ano passado... já não há em nenhuma? :(
EliminarOlá Ana
ResponderEliminarAcho que também nunca dediquei um mês inteiro a um só tema, mas ainda bem que gostaste da experiência :)
Beijinhos e boas leituras
Sim, tanto gostei que estou a repetir a experiência!!!
EliminarGosto muito de voltar a ter-te por aqui!
Beijinhos e leituras muito saborosas!
Eu sabia que devia ter tido um afilhado... Quero tanto esse Fuks na minha pilha! Ainda falta muito para o Dia da Mãe??? ;-)
ResponderEliminarTu realmente és determinada: decidiste quantos ias ler e quais seriam, e cumpriste! E tantas portuguesas, tão bom!
Eu também li autoras, como já começa a ser costume comigo, mas abri uma excepção para o Roald Dahl e a Charlie e a Fábrica de Chocolate para adormecer (ou nem por isso!) os meus filhos. Literalmente delicioso!
Beijinhos
Paula
Ahahaha! Vê lá se vais deixando pistas para que os teus homens percebam o que a mãe quer receber! Pode ser que ele caia na tua estante daqui a duas semaninhas ;)
EliminarFiquei muito curiosa com esse livro juvenil! Também me quero besuntar nessa Fábrica de chocolate e, já agora, besuntar o mais novo cá de casa! Vou tomar nota!
Beijinhos!