Jane Eyre, de Charlotte Brontë



Ficha técnica
TítuloJane Eyre
Autora – Charlotte Brontë
Editora – Ediclube
Páginas – 486
Datas de leitura – de 19 a 27 de março de 2018

Opinião
Querida Jane! Querida Jane Eyre que me aconchegou durante uma semana particularmente caótica e me proporcionou, página a página, aquele refúgio de que tanto necessitava!
Não foi a primeira vez que privei com Jane e o seu amado Mr. Rochester. Tenho, desde os meus anos de adolescência, um livro da Biblioteca Juvenil que se intitula A paixão de Jane Eyre e que, até há bem pouco tempo, pensava conter toda a narrativa escrita por Charlotte Brontë. Qual não foi o meu espanto, quando, um dia destes, ao desfolhar um exemplar da obra numa livraria, constatei que estava errada e que havia muito mais na história de uma das minha heroínas clássicas favoritas do que eu pensava.
Como sabem, estou a dedicar o mês de março à literatura feminina, à literatura escrita por mulheres e a obra de Charlotte Brontë, uma autora determinada, corajosa e à frente do seu tempo, encaixaria que nem uma luva na temática. Por isso, voltei à biblioteca da terrinha (já não entrava lá desde janeiro) e trouxe comigo Jane Eyre e a sua história integral, completinha, sem lhe faltar absolutamente nada.
As primeiras páginas, dedicadas à sua infância e juventude, trouxeram reminiscências das leituras anteriores (sim, conheço Jane desde a minha adolescência, mas reli, há mais ou menos seis anos, a sua história condensada e cortada no exemplar que tenho da Biblioteca Juvenil), mas foi como se estivesse a entrar pela primeira vez na sua vida. Sofri com ela as agruras da temporada que ela passou em casa de uma tia que apenas a suportava porque havia feito a promessa de cuidar dela ao seu falecido marido. Doeu-me muito ler a descrição da noite terrível que ela passou no quarto vermelho apenas porque tinha reagido aos insultos e à violência que lhe infligiu o seu horrível primo. Fechei o punho de satisfação e gritei interiormente “Boa, Jane, é assim mesmo” quando a “minha” menina não se calava e respondia à sua maldosa tia sempre que esta lhe apontava defeitos, a criticava e a menosprezava. Senti um alívio momentâneo quando a mesma decidiu livrar-se da sobrinha indesejada e enviá-la para um orfanato, onde viviam e estudavam outras órfãs cujas famílias já haviam morrido ou não tinham capacidade financeira para sustentá-las.
Em Lowood, Jane, uma menina de apenas dez anos, crescerá num ambiente despojado, sem qualquer tipo de luxo, mas não será isso que impedirá a “minha” menina de crescer, de fazer amizades e de chegar à idade de dezoito anos como ex-aluna e professora de outras meninas que, como ela, tiveram que fazer do orfanato o seu lar.
Com a partida de alguém muito chegado, Jane percebe que está também na hora de ela mesma deixar as paredes de Lowood e aventurar-se no mundo. Põe um anúncio no jornal e recebe apenas uma resposta e que a levará a Thonfield, onde se empregará como preceptora de uma menina e encontrará o amor da sua vida.
Não me quero alongar mais sobre a narrativa, apesar de saber que é sobejamente conhecida de muitos e muitos leitores e que não iria revelar nada de novo. Quero apenas continuar a prestar homenagem a uma mulher e escritora que admiro profundamente, que, à semelhança da protagonista Jane Eyre, tentou ser dona de si mesma e da sua vida numa época em que às mulheres quase tudo lhes estava vedado, nascendo somente para casar, ser uma esposa e mãe dedicada, aprender os lavores domésticos e governar uma casa. Sou fã assumida de Charlotte Brontë, inclusive mais do que da sua irmã Emily. Sinto um prazer e uma carinho muito grandes em estar com um dos seus livros na mão, recuar no tempo, adaptar-me de novo a um estilo de escrita diferente do que rege os autores da atualidade, refrear a vontade de avançar nas páginas para procurar os momentos em que realmente a ação avança e apreciar aqueles em que “nos sentamos” ao lado do narrador/personagem e ouvimos/lemos o que ele nos tem para dizer sobre alguém, sobre um espaço e sobretudo sobre tradições, costumes e leis sociais muito enraizadas na vida de todos.
Por fim, não quero terminar sem partilhar convosco o amor e a predileção que tenho pelo casal desta obra. Adoro a Jane, a sua impulsividade, a sua honradez e a sua determinação muito feminina, mas devoto o mesmo amor pelo colérico e tempestuoso Mr. Rochester. Os dois derretem o meu coração, é uma delícia ler os seus diálogos e abre-se sempre um sorriso ao ver como a pequenina e frágil Jane domina com as suas ideias e um pouco de manha feminina o gigante e irascível Edward Rochester. Os dois, ao lado de Elizabeth e Mr. Darcy, de Orgulho e Preconceito, serão para todo o sempre dois dos meus casais favoritos!
Se houver ainda alguém que não tenha lido Jane Eyre, por favor, faça-o! É um clássico intemporal e só o é porque é realmente bom!

NOTA – 10/10

Sinopse
Jane Eyre, pobre e órfã, cresceu em casa da sua tia, onde a solidão e a crueldade imperavam, e depois numa escola de caridade com um regime severo. Esta infância fortaleceu, no entanto, o seu carácter independente, que se revela crucial ao ocupar o lugar de preceptora em Thornfield Hall. Mas, quando se apaixona por Mr. Rochester, o seu patrão, um homem de grande ironia e algum cinismo, a descoberta de um dos seus segredos força-a a uma opção. Deverá ficar com ele e viver com as consequências, ou seguir as suas convicções, mesmo que para tal tenha de abandonar o homem que ama?
Publicado em 1847, Jane Eyre chocou inúmeros leitores da Inglaterra vitoriana com a apaixonada e intensa busca de uma mulher pela igualdade e a liberdade.

4 comentários:

  1. Mesmo estando a Emily em desvantagem numérica com o número de obras, mesmo ainda não tendo lido nada da Anne e aceitando a hipótese de vir a gostar mais de "Vilette" do que de todos os outros, confesso que sou "team Emily". Para mim, nada bate uma história deprimente de obessessão e vingança como "O Monte dos Vendavais", nem mesmo uma personagem tão guerreira e com tanto pelo na venta como a Jane, porque depois se foi apaixonar por um homem arrogante e manipulador. Não gosto particularmente do Mr. Rochester e quase dá vontade de lhe dizer "Rapariga, aposto que arranjavas melhor". E suspeito que direi o mesmo à Elizabeth se um dia ler o "Orgulho e Preconceito." :-)
    Paula

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    1. Arrancaste-me umas gargalhadas! Não gostas mesmo de personagens masculinas com as características do Mr. Rochester. Bom, assim sendo, talvez não vás gostar do Mr. Darcy, embora ele tem um lado muito humano e justo debaixo daquela capa de arrogância e sobranceria!...
      Li "O monte dos vendavais", "Jane Eyre" e "Vilette" praticamente na mesma altura, andava eu na faculdade e completamente obcecada pelos clássicos ingleses! De Vilette não me lembro de nada, mas adoraria voltar a lê-lo! Quanto ao de Emily Brontë, tenho que incluí-lo nas minhas leituras próximas, para ver se, passados mais de vinte anos, o leio com outra perspectiva! Depois conto-te ;)

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  2. Olá Ana,
    Pois...ainda não li. Mea culpa. Não há que fugir. Mas tanto por ler, não é? Não há vida suficiente. Mas se dizes que é bom eu acredito :)
    Um beijinho e boas leituras

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    1. Tens toda a razão, não há vida suficiente para o que queremos ler e se os clássicos ainda não chamam por ti, não te preocupes, virá o tempo e se não vier, não há problema! Eu também não me consigo imaginar a ler as obras de George Orwell, Dostoiésvki ou Thomas Mann. Simplesmente não me atraem, pelo menos para já!
      Beijinhos e vamos mas é ler o que nos apetece! ;)

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