Ficha técnica
Título – A
maior flor do mundo
Autor – José Saramago
Editora – Editorial Caminho
Páginas – 36
Data de leitura – 02 de setembro de 2018
Opinião
Vou
fazer-vos uma confissão. Uma confissão escabrosa de quem se diz “a maior fã de
Saramago” – mais de vinte anos depois de ter lido A Jangada de Pedra, peguei pela primeira vez e finalmente li
de fio a pavio A maior flor do mundo.
Digam lá – não é um pecado horrendo tê-lo feito apenas agora?! Que raio de fã
sou eu??
Contudo,
na última visita à biblioteca da terrinha, ia determinada a redimir-me desse
pecado terrível e trouxe a edição com capa dura e com belíssimas ilustrações da
Editorial Caminho. Li-a em poucos
minutos e bastou esse punhado de minutos para embrenhar-me de novo no mundo do
meu Saramaguinho e sentir-me em casa.
Quem
olha para uma fotografia ou imagem de José Saramago dificilmente o imagina como
contador e criador de histórias infantis. As suas feições austeras e algo
carrancudas impedem que os leitores (e não só) o vejam como tal. Eu incluo-me
(ou incluía-me) nesse rol de gente e constatei que o próprio também, já que a
curta narrativa de A maior flor do
mundo arranca com o autor a confessar que se não se sente capacitado
para montar uma história infantil, simples, com poucas e descomplicadas
palavras. Foi, como podem compreender, desconcertante e ternurento ser
testemunha da sinceridade deste monstro das letras mundiais, que admite, sem
nenhum pejo, essa falha e, chega, inclusive, a pedir ajuda aos leitores mais
pequenos, àqueles que venham a ler a história desta flor, que a moldem aos seus
gostos, que a desenvolvam e encerrem como mais lhes aprouver.
A
história é, como não poderia deixar de ser, muito curtinha e deliciosa.
Toca-nos, como devem tocar todas as histórias infantis, vai direitinha ao
coração e está maravilhosamente ilustrada nesta edição, com imagens alusivas à
narrativa e ao próprio autor, que nos aparece sentado a uma secretária, com
feições mais suaves e sorridentes, a tentar moldar o melhor possível uma história
bonita e simples. Entrei em estado de completo derretimento nos poucos minutos
em que estive com a obra na mão, não só pelo que já referi, pela viagem de uma
menino que termina aos pés de uma flor murchinha, pela humildade de Saramago ao
confessar a sua incapacidade em criar histórias infantis, como também pelo
quanto ainda me apertam as saudades que tenho deste homem que teve um papel
imprescindível no meu percurso enquanto leitora.
Por
tudo isto, não vos será difícil de adivinhar o quanto esta leitura foi
especial, memorável e agridoce. Pude conhecer uma nova faceta do meu Saramago,
pude matar as saudades que tenho das suas letras e voltei a sentir-me “amputada”,
revoltadíssima, porque nem os génios escapam às leis da mortalidade.
Reparei
o meu erro, redimi-me e adorei fazê-lo!
NOTA –
10/10
Sinopse
«E se as histórias para
crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles
capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?
Uma magnífica obra do escritor
José Saramago, com bonitas ilustrações de João Caetano.»
Prémio Nacional de Ilustração –
2001
Livro recomendado pelo Plano
Nacional de Leitura, 4.º ano de escolaridade - Leitura autónoma e leitura com
apoio dos professores ou dos pais.
Agora, fiquei intrigada: como é que um homem com uma escrita tão densa, que é um papão para tantos leitores empedernidos, consegue tornar um texto acessível às crianças? Requisitar.
ResponderEliminarA Jangada foi o meu segundo, depois do Memorial, e há dois que me estão atravessados porque me levaram a desistir deles: O Ensaio sobre a Lucidez e o Ano da Morte de Ricardo Reis. Tenho de voltar à carga um dia destes!
Paula
Foi exactamente essa a minha reacção - como é que conseguiste, Saramago?
EliminarAs obras de que falas também não são as minhas favoritas, sobretudo o Ensaio sobre a Lucidez, que se situa a muitos patamares abaixo da sua "parente" Ensaio sobre a Cegueira. Quanto à outra, reli-a há pouco tempo e gostei bem mais dela do que havia gostado na leitura inicial.
Beijinhos!