Soledad, de Raffaello Bergonse



Ficha técnica
TítuloSoledad
Autor – Raffaelo Bergonse
Editora – Ambar
Páginas – 175
Datas de leitura – de 11 a 15 de setembro de 2018

Opinião
Sou uma mulher do Norte, mais propriamente do litoral, mas, a partir do momento em que comecei a calcorrear o nosso lindo país, não fui capaz de resistir aos encantos de paragens mais interiores, mais agrestes e menos verdes. Concordo plenamente com Miguel Torga, que afirmou um dia que o Minho é demasiado verde. Prefiro de longe as paisagens mais nuas, semeadas de pedregulhos, fragas ou então que se espraiam por quilómetros que parecem infinitos, como as transmontanas, as beirãs e as alentejanas.
Soledad, do autor que até agora me era desconhecido – Raffaelo Bergonse – levou-me de novo a uma vila alentejana que me fascina desde que a visitei pela primeira vez, há cerca de quinze anos. Refiro-me a Castelo de Vide, aninhada numa encosta e protegida pelo seu castelo e pela sua imponente torre de menagem. Já percorri as suas ruazinhas sinuosas pelo menos três vezes e a última ocorreu em 2012, durante uma semana inesquecível de férias de verão. Aqui ficam duas fotografias que testemunham a beleza e o encanto da vila:



Aconchegada por esse amor e fascínio, parti para a leitura com todos os sentidos em alerta e derreti-me com as descrições dos espaços urbanos que rapidamente recordei – ruas, praças, monumentos, portas em ogiva –, com a infinitude das paisagens e sobretudo com a sua quietude, a sua paz e o seu chamamento milenar, que sempre atraiu o Homem, como se pode depreender dos achados arqueológicos que abundam por lá. É por demais evidente que toda a magia e a precisão que o autor colocou nestas partes descritivas, nos pormenores, nas sensações e nos recantinhos mais recônditos provêm de alguém que conhece o espaço do nordeste alentejano como poucos e esse conhecimento, essa vivência (atestada pela pequena biografia numa das abas do livro) são o melhor, a parte mais positiva de uma narrativa que, no resto, não deixa de ser mediana.
A trama tem o seu início em Lisboa, onde vive e trabalha o nosso protagonista, José Diamantino. Contudo, irá deixar a capital muito em breve, porque atenderá ao pedido do seu patrão, pedido esse que o levará a Castelo de Vide para gerir uma livraria que está a precisar de carinho e uma boa gestão para poder sobreviver. A mudança é vista com muito bons olhos por José Diamantino, já que lhe permitirá deixar para trás um ambiente familiar repleto de rancor por um pai violento. Vai viver numa casa rodeada de natureza e sossego, vai saborear uma solidão que não lhe pesa no coração e vai entabular conversas com gente simples e franca. Vai criar amizades e vai amar desesperadamente. Vai finalmente viver. Mas será que vai conseguir de verdade romper com todas as amarras que o tinham aprisionado a um passado de submissão a um pai violento?
Termino dizendo que Soledad é uma obra de fácil leitura e que pode cativar o leitor que busca uma narrativa simples, com uma trama não muito densa, com poucas personagens e temas associados à desilusão, ao rancor, à vontade de escapar a doridas ligações familiares e a escolhas que se fazem irrefletidamente. Na minha opinião (que é algo parcial, por aquilo que já referi), ganha brilho e magia com a escolha do espaço onde se desenrola – a lindíssima vila de Castelo de Vide, o espaço natural fabuloso onde está situada e o encantamento que se respira naquelas paisagens que me enfeitiçaram para todo o sempre. Sinto que se a trama se desenrolasse noutro espaço, noutro local, não me diria muito… Atrevo-me a dizer que me diria muito pouco…

NOTA – 07/10 (por tua causa, Alentejo, por tua causa, Castelo de Vide)

Sinopse
Um livreiro que arrasta velhos fantasmas.
Uma mulher deslocada. 
Um estranho aguarelista solitário.
SOLEDAD é a surpreendente narrativa do encontro improvável de três vidas muito diferentes, e das suas consequências irreversíveis.
Uma fábula de amor e destino, que tem como testemunhas as imensidões rochosas do Nordeste Alentejano.

2 comentários:

  1. O Alentejo é o meu destino privilegiado de férias, por ser tão perto de casa e ter mar/planícies, boa comida e belos monumentos, mas olha que no ano passado andei também pelas tuas bandas e adorei. Arouca ficou no meu Top 5 e espero que a zona dos passadiços fique para sempre gravada na minha retina.
    Beijinhos
    Paula

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    1. Tens razão, por estas bandas também há recantos maravilhosos, como Arouca e os seus passadiços que também recomendo e muito! O Alentejo reúne tudo o que é bom para fugir do mundo e apreciar o que há de mais belo no nosso país!
      Beijinhos!

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