Perguntem a Sarah Gross, de João Pinto Coelho



Ficha técnica
Título – Perguntem a Sarah Gross
Autora – João Pinto Coelho
Editora – D. Quixote
Páginas – 448
Datas de leitura – de 18 a 23 janeiro de 2016

         Opinião
         No dia 27 deste mês assinala-se o Dia Internacional de Memória do Holocausto e por coincidência a minha mania de leituras cronológicas ditou que o livro a ler perto da data fosse Perguntem a Sarah Gross, finalista do Prémio Leya de 2014.
         E eis que me vi de novo mergulhada no inenarrável horror do Holocausto. De novo mergulhada numa batalha de sentimentos e imagens que sei apenas transmitirem reflexos muito esbatidos do que alguém como Primo Levi ou Dita Kraus experienciou e sofreu apenas por ser judeu e ter nascido em territórios que foram ocupados pela Alemanha durante a Segunda Grande Guerra. De novo mergulhada no antitetismo que me caracteriza enquanto leitora voraz de obras que relatem acontecimentos e momentos (ficcionados ou não) do pior embate bélico de todos os tempos. Sim, de novo mergulhada com um entusiasmo febril numa narrativa que sabia de antemão que me iria agarrar.
         Alternando a narração entre as décadas de 20, 30 e 40 e os últimos anos 1960 e fazendo-nos viajar por vários espaços dos Estados Unidos e as cidades polacas de Oshpitzin (como Auschwitz era nomeada pelos judeus) e Cracóvia, o autor contempla-nos com um enredo que, não sendo inovador, alcança facilmente o objetivo de qualquer obra – adentra-se em nós e não mais sai. Imiscuiu-se tão intensamente em mim, interferiu na minha rotina, povoou os meus pensamentos, obrigou-me a atazanar o maridinho (que, como sempre, se me adianta nas leituras das obras mais recentes de cá de casa) com perguntas frenéticas e sobretudo provocou a avalanche de sentimentos que sempre procuro numa bela obra.
         Perguntem a Sarah Gross é na verdade uma belíssima obra, habitada por personagens fabulosamente bem construídas, redondas, complexas, poços de força e determinação e que, como tal, nos conquistam. A mim conquistou-me principalmente o leque de personagens femininas que, vivendo os horrores e as atrocidades cometidas pelos nazis ou fugindo de passados tortuosos e angustiantes, encaram a vida de frente, não se rendem e prestam homenagem a todos e todas que veem os seus direitos, a sua liberdade coartados por gentalha cujo comportamento nem o mais abjeto animal é capaz de imitar.
         Para além de personagens inesquecíveis, Perguntem a Sarah Gross prende-nos pelo seu enredo polvilhado o quanto baste de suspense, fiabilidade histórica e ardilosos saltos temporais que obrigam o leitor a querer satisfazer uma sofreguidão que não nos larga, a querer respostas a perguntas lançadas desde as primeiras páginas e que “safadamente” só serão esclarecidas nos últimos instantes. Ou seja, João Pinto Coelho estudou muitíssimo bem a lição e merece que lhe rendamos o apreço que verdadeiramente merece. Da minha parte, rendo-lho atribuindo à leitura do seu romance de estreia a nota máxima. Como não poderia deixar de ser.
         Finalizo esta opinião informando-vos que é com esta leitura e talvez com a próxima que participo num desafio (o primeiro de muitos) lançado pela Isaura (do blogue – Jardim de mil histórias), a decorrer na Goodreads – Leituras do Holocausto.
         Recomendo sem reservas esta obra! Por tudo, mas sobretudo porque nunca devemos esquecer, para evitarmos que se repita e para crescermos como seres racionais que somos.

NOTA – 10/10

Sinopse
Em 1968, Kimberly Parker, uma jovem professora de Literatura, atravessa os Estados Unidos para ir ensinar no colégio mais elitista da Nova Inglaterra, dirigido por uma mulher carismática e misteriosa chamada Sarah Gross. Foge de um segredo terrível e procura em St. Oswald’s a paz possível com a companhia da exuberante Miranda, o encanto e a sensibilidade de Clement e sobretudo a cumplicidade de Sarah. Mas a verdade persegue Kimberly até ali e, no dia em que toma a decisão que a poderia salvar, uma tragédia abala inesperadamente a instituição centenária, abrindo as portas a um passado avassalador.
Nos corredores da universidade ou no apertado gueto de Cracóvia; à sombra dos choupos de Birkenau ou pelas ruas de Auschwitz quando ainda era uma cidade feliz, Kimberly mergulha numa história brutal de dor e sobrevivência para a qual ninguém a preparou.

Rigoroso, imaginativo e profundamente cinematográfico, com diálogos magistrais e personagens inesquecíveis, Perguntem a Sarah Gross é um romance trepidante que nos dá a conhecer a cidade que se tornou o mais famoso campo de extermínio da História. A obra foi finalista do prémio LeYa em 2014.

6 comentários:

  1. Está na lista das leituras para breve, está na estante à minha espera :) Obrigada pela partilha, pela chamada de atenção que é a leitura pessoal de um livro sobre uma experiência terrível e que não deve ser esquecida. Que as nossas palavras sirvam para isso mesmo - para não deixar esquecer. beijinhos e até ao próximo livro!

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    1. Talvez para quando terminares o quarto volume da Ferrante ;)
      Sim, nunca devemos esquecer e devemos prestar homenagem a quem sofreu aquilo que é impossível descrever e compreender!
      Muitos beijinhos e cá nos vamos lendo!

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  2. Olá Ana,
    Que bom que gostaste. Fico muito contente por teres gostado. É de facto um livro fantástico.
    Obrigada por aderires ao projecto :)
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá, Isaura!
      Sim, realmente foi uma leitura fantástica e que mexeu da melhor maneira possível comigo - irá manter-se na minha memória. Tal como as atrocidades que narra.
      Aderi ao projeto com muito prazer :)
      Beijinhos e que continuemos a surpreender-nos com boas leituras como esta!

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  3. Respostas
    1. Olá e bem-vinda!
      Já fui cuscar a tua opinião sobre esta excelente obra e é ótimo saber que estamos em sintonia!!!
      Beijinhos e muito boas leituras como esta!

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