A sombra do vento, de Carlos Ruiz Zafón


RELEITURA

Ficha técnica
TítuloA sombra do vento
Autor – Carlos Ruiz Zafón
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 507
Datas de leitura – de 1 a 10 de janeiro de 2018

Opinião
Há leituras que nos esperam. Um mês, um ano ou dez anos, como o fez A Sombra do vento. Esperou na estante dez anos para que eu esticasse o corpo, a agarrasse e recordasse que todos os livros que compõem as variadíssimas estantes que ocupam paredes e nichos da minha casa estão ali, estão vivos e querem ser recordados.
Um dos meus propósitos enquanto leitora para este novo ano passa por fazer aquelas releituras que me chamam há algum tempo e que vou aludindo uma e outra vez quando partilho essas vontades com o maridinho. A primeira calhou ser a obra que abre a saga do “Cemitério dos livros esquecidos”, simplesmente porque o ditou a ordem cronológica. O livro que está à espera da sua vez na prateleira dos não-lidos é o último da referida saga – O labirinto dos espíritos – e, como o hiato temporal entre o mesmo e A sombra do vento era já, como disse, de dez anos, quis juntar o útil ao agradável, ou seja, quis dar azo à minha vontade de fazer releituras e ao mesmo tempo recordar como entrei no mundo do cemitério mais gostoso de todos e na vida de Daniel Sempere e do seu melhor amigo, o inesquecível Fermín Romero de Torres.
Sabia, desde que a tirei da estante e a segurei, que tinha nas mãos a leitura a que iria atribuir a primeira nota máxima em 2018. Mas, caramba, não tinha noção de que a releitura iria ser ainda melhor do que a primeira leitura que fiz em 2008!
A obra de Zafón é perfeita e encaixa magistralmente nos meus gostos. Envolve-nos numa aura que recorda narrativas góticas, típicas do século XIX, a própria linguagem tem contornos algo barrocos, mas que não impedem de maneira alguma que penetremos na narrativa e nos rendamos a ela, sem opor qualquer resistência.
Tenho plena consciência de que fui prisioneira desta história de “livros malditos, do homem que os escreveu, de uma personagem que se escapou das páginas de um romance para o queimar, de uma traição e de uma amizade perdida. [De] uma história de amor, de ódio e dos sonhos que vivem na sombra do vento.” (pág. 192). Sei que me perdi e me encontrei nas ruas de uma Barcelona que não conheço tão bem como gostaria de conhecer. Percebo que me enredei numa narrativa sublime, deliciosamente bem construída, que me agarrou desde a visita que Daniel faz ainda criança, pela mão do seu pai, ao Cemitério dos Livros Esquecidos e da qual sai para nunca mais ser o mesmo. Compreendo que me apaixonei sem remédio pelo lado inocente e ingénuo de Daniel; pela picardia e lábia de Fermín, pelo seu lado sedutor, de cavalheiro que conhece como ninguém a vida porque a viveu como ninguém; pela loucura de Julián Carax e pelas suas ações extremistas movidas por um amor que não morre nunca; por Bea, Nuria e Penélope, as três personagens femininas que se destacam na narrativa e que demonstram o quanto as mulheres são de fibra, de garra e dispostas a tudo para poderem abraçar a felicidade e o homem que amam descontroladamente. Constato que continuo a sentir que as entranhas se me revolvem quando recordo o quanto tive vontade de esbofetear, surrar e apertar o pescoço à personagem odiosa e execrável de Javier Fumero. Apercebo-me de tudo isto e de muito mais e quero voltar a sentir-me assim, prisioneira e escrava de uma leitura, de uma trama que me deixou suspensa e enfeitiçada até ao seu desenlace em ondas de mistério, dor, loucura, horror, medo, guerra, amizade, amor, paixão, lealdade e esperança.
Creio que já disse muito e não disse nada, pois nunca serei capaz de fazer jus ao quanto esta obra é redondamente perfeita. Poderia realçar o que referi em parágrafos anteriores, abrir um sorriso e exclamar que também eu caí nos ardis de Fermín, que também eu me apaixonei sem volta pela sua personagem única e inesquecível, destacar a mistura harmoniosa e deliciosamente saborosa entre ambiente, espaços, personagens, mistério, emoções e livros que compõe A sombra do vento que mesmo assim sentiria que este texto não estaria a refletir a beleza da obra, o quanto ela possui aquilo que eu sempre busquei, busco e buscarei numa leitura – um arrebato total, uma prisão que rogo que me encarcere e me ponha de sorriso pateta na cara e uma vontade incontrolável de gritar, dançar, chorar, rir, abraçar e agradecer à vida ter-me feito, há muitos anos atrás, conhecer uma professora que me incentivou a ler para melhorar a nota a Português.
Fico-me por aqui. Não consigo dizer mais nada. Só vos peço que leiam esta obra ou que a releiam, como eu o fiz. Não permitam que ela não faça parte da vossa vida.

NOTA – 11/10 (Tinha que ser – este rebenta a escala!)

Sinopse
Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona.

Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, "A Sombra do Vento" é sobretudo uma trágica história de amor cujo eco se projecta através do tempo. Com uma grande força narrativa, o autor entrelaça tramas e enigmas ao modo de bonecas russas num inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, numa intriga que se mantém até à última página. 

2 comentários:

  1. Com tanto fervor, se ainda não tivesse lido este, era já! É um dos livros que mais ofereço e mais recomendo, porque acho que cativa até aqueles que não são leitores vorazes como nós.
    Agora que abriste este precedente, quero mais 11/10 este ano!
    Beijinhos, Paula

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  2. Também eu quero mais 11/10! Oxalá estejam à minha espera!
    Sim, este livro tem tudo e mais alguma coisa para agarrar qualquer leitor e quero o mesmo para outros livros que vou reler este ano - que agarrem muitos e muitos leitores! É um dos propósitos das releituras de 2018!
    Beijinhos!

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