Desnorte, de Inês Pedrosa


Ficha técnica
TítuloDesnorte
Autora – Inês Pedrosa
Editora – Publicações Dom Quixote
Páginas – 194
Data de leitura – de 28 a 31 de dezembro de 2017

Opinião
Tal como referi no texto anterior a este, terminei o ano com duas leituras – uma partilhada com o D (de que escreverei a correspondente opinião posteriormente) e Desnorte, de Inês Pedrosa.
Convém relembrar quem vai acompanhando as minhas andanças literárias de que não sou a maior admiradora de Inês Pedrosa. Li há muitos anos Nas tuas mãos (obra da qual nada recordo) e no final de 2015 li Desamparo, que nos apresenta uma narrativa preenchida por personagens, contextos, espaços e sabores muito portugueses, mas à qual falta, na minha opinião, mais intensidade, mais garra, mais impetuosidade para que ficasse comigo mais tempo do que realmente ficou.
Desnorte compõe-se de 14 contos, ilustrados de forma brilhante com desenhos maravilhosos e todos eles bastante diferentes entre si. Essa heterogeneidade revelou-se fulcral para que eu gostasse mais de uns contos do que de outros. Naveguei sem interesse por “Repouso eterno”, “Antes morta” ou “Dar à luz”. Senti alguma empatia pelo conto inicial – “Voz”, pelo que se lhe segue – “As curvas do tempo”, pelo quinto – “Suzana” e pelo antepenúltimo, onde Frank Sinatra se dirige a Amália Rodrigues, logo após a sua morte, e faz um balanço da vida e da fama que tanto os aproximou. Agradaram-me bastante os contos “Mar aberto”, “Canário”, o que dá título à obra, “A páginas tantas” e “As mais altas coisas”. Porém, não houve nenhum que me conquistasse e me retivesse. Nenhum…
Assim, esta leitura veio provar, ou melhor, veio reforçar aquilo que já era óbvio – que os dois adultos cá de casa não têm exatamente os mesmos gostos literários, que o maridinho continuará a favorecer leituras mais imediatas, limpas, serenas, leves e, por isso mesmo, continuará a apreciar Inês Pedrosa e que eu, pelo contrário, seguirei na senda de narrativas mais profundas, obscuras, densas, intensas, que me deixam sem fôlego e, por isso mesmo, não voltarei tão cedo a pegar numa obra de Inês Pedrosa.
Talvez esteja a ser demasiado dura e implacável com a autora ao afirmar o que afirmei no parágrafo anterior. Não quero, de forma alguma, mostrar-me insensível e ser injusta com alguém que conquistou, com pleno direito, o seu lugar na literatura nacional. A leitura que fiz de Desnorte não foi, em absoluto, uma perda de tempo. Sublinhei com gosto algumas passagens, compreendi que há sentimentos de melancolia, de desespero, de tristeza, de desconforto e de desencanto que atravessam os 14 contos e com os quais me identifiquei, por serem aqueles que, masoquistamente, procuro em muitas das minhas leituras, dei valor ao estilo e à escrita suave e segura da autora, mas quando fechei o livro pela última vez e fiz o habitual balanço da leitura findada, não pude evitar pensar que a mesma não me havia desequilibrado nem me havia remexido. Havia sido agradável, havia sido “entretenida”, como se diz em espanhol, mas apenas isso. E eu, como leitora veterana e exigente, procuro muito, mas muito mais.
Agora venha 2018 e que arranque com uma leitura poderosa, febril e que reclame toda a minha atenção e devoção. Creio que tenho a obra ideal para isso. Será uma releitura, de um livro que li há quase dez anos, mas que seguramente me arrebatará tanto ou mais do que o fez da primeira vez que o tive nas mãos 😉
Antes de terminar, reitero os desejos que deixei no último texto – que este ano que ainda agora começou seja abençoado e que vos adoce a vida com leituras recheadinhas de prazer e emoção!

NOTA – 07/10

Sinopse
Uma rapariga em busca da própria voz. Um homem lançado nas curvas do tempo até à pré-história do amor. Um pai criando um mar de livros através do qual a filha possa voltar para ele. Uma família polindo os caixões dos seus mortos. Uma amiga leve e voadora como um balão. Uma mulher que queria ser águia. Um casal de jovens que se encontra para se suicidar. Uma obsessão erótica. Uma paixão fatal. O que fazem os escritores de festival em festival. Um escritor ansioso por se tornar rico e famoso. Um cantor sentado numa nuvem, esperando por uma fadista. Um avião cheio de personagens literárias, com uma bomba a bordo. Um homem que regressa à sua ilha e descobre o mistério da infância.
Este livro é enriquecido com ilustrações originais de Gilson Lopes. 

2 comentários:

  1. Olá Ana,
    Nunca li nada da Inês Pedrosa. Este já tinha ouvido falar bem. Um dia quando o encontrar dou-lhe uma oportunidade.
    Um beijinho e boas leituras

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, deves dar-lhe uma oportunidade, a qualquer obra da autora, porque, por exemplo, aqui em casa, eu e o maridinho temos visões muito distintas de Inês Pedrosa e espero mesmo que a aprecies mais do que eu, porque a sua escrita merece esse apreço.
      Beijinhos e leituras saborosas.

      Eliminar