La templanza, de María Dueñas



Ficha técnica
TítuloLa Templanza
Autora – María Dueñas
Editora – Editorial Planeta
Páginas – 504
Datas de leitura – de 17 a 21 de abril de 2018

Opinião
María Dueñas não é uma autora desconhecida para os portugueses. A sua obra de estreia – O tempo entre costuras – foi um sucesso editorial em ambos os países da Península Ibérica e eu sou apenas mais uma leitora que vibrou, devorou e adorou o ritmo vivíssimo da sua narrativa, o seu carácter histórico com travos de espionagem, os espaços que percorreu e, acima de tudo, a protagonista, o seu carisma, a sua determinação, a sua coragem e a sua capacidade para amar. Uma mulher de garra, do caraças e que ainda vive nas minhas “lembranças literárias”.
Infelizmente, com María Dueñas aconteceu aquilo que nenhum autor, de certeza, deseja que lhe aconteça – depois do estrondoso sucesso alcançado com a referida obra de estreia, as expectativas eram elevadíssimas e nenhuma das duas obras que se lhe seguiram foram suficientemente suculentas para que se pusesse na mesa uma comparação equitativa. Misión Olvido, publicada pela Porto Editora com o título Recomeçar, (opinião aqui) lê-se com bastante agrado, mas não me arrebatou como o seu antecessor. Sabia, por opiniões que fui lendo aqui e acolá que La Templanza, a sua terceira obra e ainda não traduzida para a nossa língua, tão-pouco oferecia uma narrativa efervescente e de leitura compulsiva. Porém, decidi dar-lhe uma oportunidade e incluí-la nas leituras deste mês todo dedicadinho à literatura espanhola. E não me arrependo.
Mauro Larrea é um “sel-made man”. Emigrou com dois filhos nos braços para o México quando este território era ainda uma colónia espanhola. Lá fez fortuna à custa de muito trabalho nas minas de prata, de muita ambição e de um olho certeiro para negócios proveitosos. Contudo, em meados de 1860, vê-se, de um dia para o outro, na falência. Com quarenta e sete anos, tem que começar tudo de novo e fá-lo como sempre fez – tomando riscos, pedindo dinheiro a um agiota sem qualquer tipo de escrúpulos, deixando para trás uma vida de opulência e embarcando numa viagem que o levará, primeiro, à ilha cubana e posteriormente à pátria-mãe. Em Havana, ganha num jogo de bilhar as escrituras de uma propriedade vinícola em Jerez de la Frontera, Espanha. O seu próximo passo é embarcar para o país que o viu nascer e tentar vendê-las e arrecadar dinheiro para se ver livre do sufoco financeiro em que se encontra. Porém, desta vez os seus planos não correm como esperava e ver-se-á frente a frente com alguém que o fará duvidar das suas certezas e questionar as suas mais imediatas prioridades.
Não me incomoda dizer que a narrativa de La Templanza, sobretudo a sua primeira parte, se desenrola a um ritmo algo lento, que algumas das peripécias e aventuras que aceleram esse ritmo na segunda parte são previsíveis e descabeladas. Mas também não me incomoda nada admitir que, por um lado, lhe perdoo essa falta de vivacidade e verosimilhança e que, por outro, não consegui ficar imune à rudeza, à personalidade brusca, direta de Mauro Larrea, um homem que combina na perfeição um passado de homem trabalhador, simples, de braços e tronco musculados com um presente de homem habituado a circular em ambientes requintados e ostentosos. Gostei muito do seu carácter e considero como tal que a autora, apesar de ter falhado em outros aspectos, conquista o leitor com a força e o carisma das personagens, principalmente de Mauro, Soledad, Manuel Ysasi, Santos Huesos ou Mariana. E que dizer daquele momento em que duas dessas personagens descem uma escadaria e uma delas sente, como não sentia há muito tempo, que a vida lhe volta a correr no sangue apenas porque toma a mão da outra, a coloca no seu braço e a ajuda a descer os degraus escorregadios? Intensidade absoluta que saiu das páginas do livro e se aninhou no íntimo desta leitora que se derrete com uma suculenta história de amor!
Depois de três obras publicadas, ainda não foi desta que María Dueñas regressou ao patamar que atingiu com a sua obra de estreia (que recomendo vivamente a todos – leiam O tempo entre costuras! Não se arrependerão!). Mas suspeito que o irá conseguir muito em breve, pois a sua escrita denota cuidado, enreda e capta o leitor e sabe como criar personagens empolgantes. Sei que acaba de publicar uma nova narrativa e que as opiniões são muito satisfatórias, mesmo daqueles leitores que, como eu, nunca a abandonaram. Quem sabe não a trago comigo quando der uma saltada a Espanha? Até lá, vou relembrando com carinho e um sorriso nos lábios a bela história de Mauro Larrea e continuar a dar a conhecer um pouco mais da literatura espanhola.
Termino agradecendo-te, Cristina. Tu sabes porquê!

NOTA – 08/10

Sinopse
Nada hacía suponer a Mauro Larrea que la fortuna que levantó tras años de tesón y arrojo se le derrumbaría con un estrepitoso revés. Ahogado por las deudas y la incertidumbre, apuesta sus últimos recursos en una temeraria jugada que abre ante él la oportunidad de resurgir. Hasta que la perturbadora Soledad Montalvo, esposa de un marchante de vinos londinense, entra en su vida envuelta en claroscuros para arrastrarle a un porvenir que jamás sospechó. De la joven república mexicana a la espléndida Habana colonial; de las Antillas al Jerez de la segunda mitad del XIX, cuando el comercio de sus vinos con Inglaterra convirtió la ciudad andaluza en un enclave cosmopolita y legendario. Por todos estos escenarios transita La Templanza, una novela que habla de glorias y derrotas, de minas de plata, intrigas de familia, viñas, bodegas y ciudades soberbias cuyo esplendor se desvaneció en el tiempo. Una historia de coraje ante las adversidades y de un destino alterado para siempre por la fuerza de una pasión.

8 comentários:

  1. Tenho imensa curiosidade para com "O tempo entre costuras", que já vi em ambas as línguas em diversos lugares e para o qual fiquei sempre a olhar, resistindo a trazer :) estive a ler a tua opinião sobre esse e se calhar para a próxima não lhe resisto! É uma opinião curta e simples, mas o "tempos que, apesar de terem sido sangrentos, tenebrosos, faziam com que os homens e as mulheres dessem o melhor de si, que honrassem o seu papel enquanto tal e que lutassem pelos seus ideais até às últimas consequências!" convenceu-me completamente!
    Tenho visto outros livros da autora também, e tenho pena de saber que não cumprem com as expectativas criadas pelo primeiro... deve ser realmente complicado para a autora!
    Obrigada por me relembrares desta autora que realmente vejo tantas vezes, estou curiosíssima com as tuas leituras em espanhol :)

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    1. Para a próxima vez que "tropeçares" com "O tempo entre costuras" não hesites - é de leitura compulsiva!
      Apesar de os seus sucessores não terem tido o mesmo êxito, continuo a acreditar na autora e sei que o último que ela lançou - "Las hijas del capitán" - foi o livro mais vendido nas festas de Sant Jordi (Barcelona) e que promete!
      Adoro essa tua curiosidade pelas minhas leituras em espanhol! Sei que as mesmas não despertam o mesmo entusiasmo em muitos mais visitantes do blogue, por isso, abre-se-me um sorriso ao ler as tuas palavras!
      O mês está a terminar e foi uma experiência muito boa, que repetirei!

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    2. Não hesito, embora me leves à falência :D quiçá esse novo livro volte às alturas do primeiro :)
      Tenho imensa curiosidade sim! Porque é uma coisa realmente tua (fico farta de ver os mesmos livros mencionados em todo o lado), e a tua paixão é visível; porque ler noutras línguas é algo que me fascina há muito, e que faço há muito, e gosto de ver outros que o façam (o que faz com que muitos livros sejam diferentes, por haver tanto que cá não é editado); e por serem em espanhol, porque eu conheço um mundo de norte-americanos e ingleses, meia dúzia de franceses e uma mão cheia de lusófonos, e o que é que conheço de espanhóis (espanhóis mesmo, não sul-americanos), tendo origens na raia? Quase nada. E assim fico a conhecer mais e mais :)
      (mas percebo - às vezes escrevo sobre livros que adoro, coisas que são bastante minhas mas que não são leituras tão "populares", e só o meu namorado é que vai comentar o blog. E eu adoro-o, e adoro-o por isso, mas fico triste quando há posts ou leituras tão pessoais e ninguém quer saber)

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  2. Partilho da tua "dor", pois dói quando aquelas leituras e correspondentes posts que te tocam de forma especial não chegam aos outros como tu queres que cheguem, que o "povo" que visita o teu cantinho consiga sentir o que tu sentiste, que o texto seja capaz de transmitir toda essa emoção e impele a que deixem um comentário, nem que seja apenas para dizer que ficaram com a curiosidade aguçada... Este cantinho não é só meu e adoraria um bocadinho de interação, parecida com aquela que, por exemplo, encontro nos canais do Booktube!...
    As leituras em outras línguas são uma forma de conhecer aquilo que cá não chega e há TANTA coisa boa a ser publicada em Espanha, para não ir mais longe! E conta comigo para dar-te umas boas dicas!
    Muito obrigada por estares aí e estar contagiada como eu pelas leituras em espanhol e por muito mais!

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    1. Também sinto que sofro da falta de interacção! Devo ser eu que não sou interessante o suficiente, mas pronto :p
      Acredito! Sei que o mundo anglófono é quase infindável, e como sabes tenho muita pena de não conhecer mais do mundo aqui ao lado - e logo eu que sou da Raia (embora nascida e criada em Lisboa) :) aqui para recolher as dicas todas :D

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    2. Então já somos duas que não somos interessantes o suficiente ;), já que também não reina por aqui a interação que desejo, mas aquela que existe, há que dizê-lo, é mesmo MUITA BOA :) :)

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  3. Olá Ana,
    Estou neste momento a ler o "Tempo entre Costuras". Embora no início estou a gostar bastante :) Já coloquei o "Recomeçar" na lista. Pena que este não esteja traduzido. Mas ainda há esperança :)
    Um beijinho e boas leituras

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    1. Que bom, Isa, que estás a gostar de "O tempo entre costuras"! Fico mesmo contente, porque é uma leitura que merece ser feita e conhecida por todas!
      Sim, esperemos que a Porto Editora não se esqueça da autora!
      Beijinhos!!!!

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