Ficha técnica
Título – O
pintor debaixo do lava-loiças
Autor – Afonso Cruz
Editora – Editorial Caminho
Páginas – 176
Datas de leitura – 02 a 05 de julho de 2018
Opinião
“Podei tudo na minha vida, como fez Gauguin.
Sabia que ele abandonou a família para ir para Paris e tornar-se pintor? (…)
Tenho tido pensamentos contraditórios e alguma vontade de que a árvore cresça
para os lados, com folhas verdes e vários ramos e, quem sabe, flores e frutos.”
(págs. 161/162)
A primeira coisa que me apraz (bela palavra,
esta, não é?) dizer é que ninguém sai incólume de uma leitura do magnífico
Afonso Cruz. Li algures que o autor nos aquece o coração e não poderia estar
mais de acordo. Ter um livro seu nas mãos, enroscar-me no sofá com as histórias
que ele magistralmente engendra, terminar o meu dia na sua companhia é
indescritível. Creio que muito poucos têm a sensibilidade e o à-vontade com as
palavras que possui Afonso Cruz e isso resulta sempre em histórias
mirabolantes, deliciosas e que iluminam o nosso coração.
Em O pintor debaixo do lava-loiças
conhecemos Jozef Sors, um pintor eslovaco, nascido no final do século XIX e que
sempre acreditou que a sua vida e ele próprio tinham que ser como uma árvore,
completamente vertical e despida de ramos, flores e frutos. Só assim o seu
trabalho como pintor faria sentido e poderia acontecer. Tenta, como fez
Gauguin, desprender-se de todos os laços emocionais, perde o pai, desvincula-se
da mãe e os poucos amigos ou se afastam ou são deixados para trás. Ruma para
vários espaços, cidades e países e termina na Figueira da Foz, em plena Segunda
Guerra Mundial, debaixo de um lava-loiças. Resumidamente, esta é a trama da
obra, mas o que realmente me aqueceu o coração e me voltou fazer cair o queixo
perante a genialidade do autor foi a sua escrita, a magia que ele coloca na
construção de uma simples frase e, mais uma vez, a coexistência da palavra com
um lado gráfico que casam de forma perfeita. Voltei a assinalar inúmeras
passagens, rendi-me de novo à prosa cruziana, enfim, à criatividade e beleza
que assistem às suas palavras e ideias.
Foi uma
leitura rápida, mas absorvente. Confesso que a parte final me aqueceu mais do
que a parte inicial, principalmente por causa do que revela a citação com que
abri esta opinião e também pelo que – e não estou a “spoilar”, basta ler a
sinopse – o autor partilha connosco no epílogo e que esteve na base desta obra.
As vivências com os seus avós que, como é óbvio, abrem uma saudade em mim que
nunca se esfumará, tocaram-me e fizeram-me sentir ainda mais próxima deste
autor que já ocupa um cantinho muito especial nas minhas preferências.
Recomendadíssimo!
Esta
leitura foi a terceira que fiz para a maratona literária Bookbingo – Leituras ao sol 2 e encaixa direitinho na
categoria – Livro de um autor que tenha
as tuas iniciais. Venha a próxima! 😄😄
NOTA - 09/10
Sinopse
A liberdade, muitas vezes,
acaba por sobreviver graças a espaços tão apertados quanto o lava-loiças de um
fotógrafo. Esta é a história, baseada num episódio real (passado com os avós do
autor), de um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIX, no império
Austro-Húngaro, que emigrou para os EUA e voltou a Bratislava e que, por causa
do nazismo, teve de fugir para debaixo de um lava-loiças.
Afonso Cruz! <3 <3 <3
ResponderEliminarPronto, já tive o meu momento lamechas do dia!
Já li este livro há uns três anos e só me lembro das sensações que me causou e que o pratogonista me partia o coração a cada virar de página.
Já leste a Boneca de Kokoschka? Fabuloso! É daquelas histórias com um final tipo lacinho perfeitinho, mas nele eu perdoo-o.
Beijinhos!
Paula
:) :) :)
EliminarAinda não li a Boneca, mas virá comigo um dia destes da biblioteca, está prometido, pois também quero saborear esse final tipo lacinho perfeitinho!
Beijinhos!
Olá!!
ResponderEliminarAinda ontem esse livro foi recomendado na Roda. Esse quero muito ler 😊 fantástica opinião, como sempre. Um beijinho
Obrigada, querida!
EliminarLê-o, porque é maravilhoso, como tudo o que sai das mãos de Afonso Cruz!
Beijinhos!!!