Chama-me pelo teu nome, de André Aciman



Ficha técnica
TítuloChama-me pelo teu nome
Autor – André Aciman
Editora – Clube do Autor
Páginas – 284
Datas de leitura – 16 a 20 de julho de 2018

Opinião
Este livro chegou cá a casa em junho, mais uma vez consequência da gentileza da Berta, do Clube do Autor. Tinha planeado lê-lo brevemente, mas, na minha lufa-lufa de “despachar” leituras por ordem cronológica de entrada, nem sequer pus a hipótese de inseri-lo na maratona literária que tem ocupado os meus dias “literários” desde o início do verão. Porém, por culpa do Booktube, de uma leitura conjunta que fizeram três booktubers que sigo e dos correspondentes vídeos de opinião (a que se juntou uma “live”), não consegui esperar mais, saquei a obra do cantinho da estante dos “por ler” e obriguei-a a fazer-me companhia durante 5 dias.

“… e queria que eu soubesse que ele era mais eu do que alguma vez eu fora, porque, quando ele se tornava eu, e eu me tornava ele, todos aqueles anos antes, ele era, e seria para sempre, muito depois de todas as encruzilhadas da vida, o meu irmão, o meu amigo, o meu pai, o meu filho, o meu marido, o meu amante, eu mesmo. Nas semanas que passámos juntos naquele verão, as nossas vidas mal se tocaram, mas atravessámos para a outra margem, onde o tempo para, o paraíso desce à terra e nos oferece a porção que é nosso direito divino desde o nascimento. Olhámos para o outro lado. Falámos de tudo, mas. Mas sempre soubemos, e não dizer nada, agora, só confirmava que sabíamos. Descobrimos as estrelas, tu e eu. E isso só nos é proporcionado uma vez na vida.” (pág. 278)

Estamos na década de 80. Como acontece em todos os verões, os pais de Elio recebe um jovem académico na sua casa de férias localizada à beira-mar de uma localidade italiana. Desta vez, esse jovem é Oliver, norte-americano, de 24 anos e que vai agitar a suave rotina daqueles dias estivais com a sua boa-disposição, o seu à-vontade e alguma sobranceria. Contudo, o efeito que a chegada deste hóspede produz em Elio é abalroador e fará com que o jovem de 17 anos descubra o desejo intenso, animal e lhe apeteça, com um apetite visceral, que não o deixa pensar em mais nada, conhecer, tocar e penetrar o corpo daquele homem que o tenta desde que pôs os pés em sua casa.
A obra está dividida em quatro partes e uma segue a outra num crescendo que me fez não querer largá-la enquanto não a acabasse. Confesso que a primeira parte foi a que menos gostei, mas compreendo a sua existência e a sua pertinência. É nela que entramos nos pensamentos, gostos e prazeres de Elio, é nela que entendemos o quanto este miúdo é diferente dos demais da sua idade, sobretudo por causa dos seus gostos literários e musicais, que fazem dele alguém com quem se pode falar e discutir praticamente sobre tudo relacionado com as duas artes. Mas é também nessa primeira parte (as outras – a segunda e a terceira – corroborá-lo-ão) que nos enterneceremos e sorriremos perante as inseguranças de Elio, a intensidade dos seus sentimentos e a sensação de premência em ter o que quer, tão típicas da adolescência/juventude de todos nós. A primeira parte é ainda uma porta que se vai abrindo e permitindo que o leitor vislumbre o que irá desenrolar-se nas partes que se lhe seguem e que se resume a isto – serão ou não os desejos de Elio satisfeitos? E qual será a sua reação face a essa realização (ou não) daquilo que o atormenta e que não o deixa pensar ou respirar mais nada?
Deixando o resumo da obra por aqui, para que não desvende mais do que pretendo desvendar, regresso ao que mencionei no parágrafo inicial desta opinião e digo, sem qualquer espécie de dúvida, que as expectativas que levava comigo, quando retirei a obra da estante, não foram defraudadas e que esta leitura está nas melhores deste ano. Sabia de antemão que a reação de outros leitores à mesma não era consensual (houve quem a tivesse adorado e quem nem sequer a tivesse terminado), e entendo-a perfeitamente, pois o tema pode ser constrangedor e as descrições de alguns atos são muito cruas e gráficas. Contudo, nada disso poderia nunca manchar uma experiência avassaladora como acabou por ser aquela que a obra me ofereceu, já que estamos perante uma lindíssima, única e mágica história de amor que me prendeu do início ao fim, que me fez sofrer, sorrir, recordar e chorar. Sim, chorar compulsivamente, como já não chorava há tempos. Chorar com passagens magistralmente bem conseguidas como aquela que aqui transcrevi e que, na minha opinião, capta na perfeição tudo o que deve ficar connosco após o término da leitura – uma história de um amor mais do que completo, que extravasa a parte física e a união de dois seres e que todos nós queremos sentir ou possuir uma vez na vida. Não faço tenção de explicar aquilo que, para mim, está por detrás do título da obra, mas abro ligeiramente o pano e sussurro que é mais um exemplo dessa completude de um amor que “só nos é proporcionado uma vez na vida”.
É com um pequenino aperto no coração que devolvo a obra à estante, porque tenho uma plena e fria consciência de que aquilo que ela me deu é raro e que afetará as leituras que se lhe seguirão. Não é fácil a busca pelo que é especial e mágico, mas também não é fácil (nem justo) desligarmo-nos da felicidade que sentimos quando essa busca finalmente atinge o seu propósito e temos que seguir caminho.
É mais do que óbvio que recomendo encarecidamente que leia esta obra, mas que apenas o faça quem se sente preparada para ela. Tenciono ver a correspondente adaptação cinematográfica que ganhou inclusive o Óscar de melhor argumento adaptado e comprovar aquilo que já li/ouvi várias vezes – que, ao contrário do que é habitual, se deve ver primeiro o filme e só depois ler o livro. Já não seguirei esse conselho, mas estou muitíssimo curiosa por ver o filme e comprovar se ele é tão bom como o livro.
Termino agradecendo novamente à editora Clube do Autor o generoso envio da obra.

Esta foi a sexta leitura que fiz para a maratona literária – Bookbingo – Leituras ao sol 2. Não era a obra que inicialmente tinha previsto para a categoria – Livro que se passe no verão – mas a urgência em lê-la tratou de me fazer trocar as voltas à lista.

NOTA – 10/10

Sinopse
Chama-me pelo Teu Nome é um romance arrebatador sobre o desejo e a experiência da atração. Uma das grandes histórias de amor do nosso tempo, narrada de forma inteligente e imprevisível.
Na idílica Riviera italiana nasce um romance intenso entre um rapaz de dezassete anos e o convidado dos pais, um estudante universitário que irá passar com eles umas semanas no verão.
Divididos entre o receio das consequências e o fascínio que não conseguem esconder, avançam e recuam movidos pela curiosidade, o desejo, a obsessão e o medo, até se deixarem levar por uma paixão arrebatadora e descobrirem uma intimidade rara que temem nunca mais encontrar.

8 comentários:

  1. Olá Ana,
    Ainda bem que gostaste do livro. Fico mesmo feliz por teres gostado :) Como sabes eu adorei o filme.
    Um beijinho

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    1. Tenho mesmo que ver o filme porque toda a gente fala maravilhas dele!
      Beijinhos, muitos!

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  2. A ler, como sabes :) já estou na recta final (já estão em Roma) e estou a gostar muito, embora concorde que algumas partes são meio gráficas e too much!
    Vi o filme em Janeiro e adorei! Acredito que vás gostar, tendo gostado assim do livro!
    Beijinhos :)

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    1. A parte de que mais gostei foi mesmo da última, pós-Roma! Depois diz-me o que achaste dela!
      Sim, há partes que são mesmo too much! E sim, tenho que ver o filme!
      Beijinhos!!!

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    2. Roma em si entediou-me um pouco, o pós-Roma foi muito bonito e não estava à espera! Mas quero que vejas o filme antes de comentar mais! :) beijinhos!

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    3. OK, falamos nessa altura :)
      Beijos

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  3. Acho que, às vezes, gostamos ou não dos livros como das pessoas: ou há química ou não há. Algumas têm todas as qualidades que apreciamos e ainda assim não vamos à bola com elas. Foi o que aconteceu comigo e este livro. Muitas vezes dou mais valor a um bom conjunto de frases ou a uma personagem bem esgalhada do que propriamente ao enredo, mas aqui a escrita pareceu-me pretensiosa e o Oliver apenas um arrogante. E fiquei triste por não gostar nem um bocadinho...
    Acho que gostaste tanto, que vais ficar com a ressaca e que isso se vai reflectir no livro seguinte. Ainda por cima o jovem do Sem Destino pareceu-me o oposto do Elio, distante e apático, pelo pouco que li.
    Beijinhos
    Paula

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    1. Não deixo de concordar com o que dizes, houve partes da escrita que não me agradaram assim tanto (e não estou a falar daquelas mais gráficas), mas as páginas finais que me levaram a um choro quase incontrolável apagaram todas essas impressões menos positivas.
      Pois, a ressaca deu no que deu... Como sabes, não consegui terminar a leitura do Sem destino pelas razões que tu mencionas, exactamente por essas razões ;)
      Beijinhos e bom domingo!

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