Segunda-feira, 26 de maio de 2014
Opinião
Com
a leitura de Jerusalém, entrei
no mundo de Mia Couto e dele já não saio mais!!!
É a
história de quatro homens (um pai, dois filhos e um capataz), que se refugiam
numa antiga coutada de caça, em fuga da cidade e de um passado demasiado
presente. É ainda e sobretudo a história de Mwanito, o filho mais novo e
narrador da obra, que apenas conhece o mundo de Jerusalém e que nada sabe do
que se passa no mundo do “lado de lá” e que sofre por nunca ter conhecido a
mãe. São dele as palavras que me conquistaram, logo no início da narrativa – “A primeira vez que vi uma mulher tinha onze
anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas.”
(pág. 13)
Ora
não preciso de dizer que, como mulher e como mãe, me rendi de imediato a esta
declaração e nunca mais me deixei de sentir cativada pela beleza de tudo o que
nos é contado por Mwanito, do princípio ao fim da obra.
O
estilo de Mia Couto é belíssimo, poético e tão poderoso que nos faz identificar
com tudo o que lemos, inclusive se a realidade da história nos parece um pouco
louca e fora do que supostamente é normal!...
Agradeço
do fundo do coração ao meu pai por me ter oferecido esta maravilhosa obra de
Mia Couto e a possibilidade de assim conhecer uma das vozes mais arrebatadoras
do panorama literário da língua portuguesa!
“A escrita me devolvia o rosto perdido de
minha mãe.” (pág. 46)
“Mulheres são como ilhas: sempre longe, mas
ofuscando todo o mar em redor.” (pág. 60)
“Os mortos não morrem quando deixam de viver,
mas quando os votamos ao esquecimento.” (pág. 63)
“Cada dia é uma folha que tu rasgas, sou o
papel que espera pela tua mão, sou a letra que aguarda pelo afago dos teus
olhos.” (pág. 138)
“Só agora entendi que a sedução mora em outro
lugar. Talvez no olhar.” (pág. 144)
“Cada um de nós foi uma mentira, mas nós os
dois fomos verdade.” (pág. 194)
NOTA
– 09/10
Sinopse
Plano
Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário
como sugestão de leitura.
Jesusalém é seguramente a mais madura e mais
conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas.
Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão
pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de
língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo
desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do
escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo.
Mais uma vez, a tua maravilhosa opinião conseguiu abrir-me o "apetite" para ler Mia Couto. Obrigado e continuação de boas leituras.
ResponderEliminarObrigada! É esse o objetivo deste meu cantinho! Ainda bem que estou a consegui-lo!
EliminarContinuação de boas leituras!
Volta sempre!