No me cuentes tu vida, de Luis García Montero

Domingo, 14 de abril de 2015





Opinião
       “(…) tengo la impresión de que para salir de esta crisis necesitaremos más a los abuelos que a los jóvenes, o por lo menos necesitaremos que los jóvenes hablen con sus abuelos, conozcan su experiencia, aprendan a levantar un poco la voz y se acostumbren a luchar como ellos.(pág. 270)
Creio que este excerto é muito pertinente para compreendermos a obra que acabei de ler há poucos minutos. Foi a minha estreia no mundo literário de Luis García Montero, uma estreia bastante esperada, mas que, para ser sincera, me desiludiu um pouco.
No me cuentes tu vida é um chavão que recorrentemente ouvimos sair da boca dos filhos quando os seus pais tentam abordar algum tema, socorrendo-se da sua experiência, de episódios da sua vida e fazendo as inevitáveis comparações e retirando delas as também inevitáveis conclusões. Esse mecanismo de defesa e de rebeldia é perfeitamente compreensível e fez parte de muitas das discussões mais acesas que mantive com a minha querida mamã.
Ramón tem vinte e três anos e é o reflexo de muitos jovens de hoje em dia. Recém-licenciado, continua a viver em casa dos pais, mergulhando as suas horas em três ecrãs de computador e sem mostrar indícios de querer mudar essa rotina. Contudo, a chegada de Mariana vem dar um “basta” em tudo isto, sem, no entanto, conseguir quebrar o distanciamento que afasta cada vez mais Ramón do seu progenitor, Juan Montenegro, um homem que se autointitula de neurótico e que tenta a todo o custo dialogar com o filho, conhecê-lo melhor e dar-se a conhecer.
Como esses diálogos não parecem estar a surtir o efeito desejado, como os silêncios e os momentos constrangedores começam a amontoar-se, Juan aproveita um caderno que lhe é oferecido e decide escrever aí a sua história, anotar os seus pensamentos, as suas recordações, as suas perspetivas, o modo como vê e sente a vida, enfim, tudo aquilo que sempre quis partilhar consigo mesmo e sobretudo com o seu filho. Conta-lhe episódios da sua infância, da sua juventude, de como conheceu Lola, a atual esposa e mãe de Ramón, e dá-nos assim pinceladas de três épocas distintas mas interligadas – a da Espanha franquista e a de muitos exilados na Roménia, a dos anos 80, a chamada de Transição e finalmente a que nos está mais próxima e é mais global – a de um presente mergulhado numa crise económica e de valores e que apenas garante incerteza e angústia…
Ora, convém dizer neste momento que, como podem comprovar pela “wishlist” que está na primeira página do blogue, Luis García Montero era (e é) um dos autores que mais desejo tinha de conhecer, não só porque é marido da minha Almudena Grandes, mas sobretudo porque o que já havia lido sobre ele e algumas das suas obras, me interessava sobremaneira. Sendo assim, não hesitei quando, em dezembro, dentro de um dos meus espaços de eleição (a livraria “Casa del Libro” em Vigo), me deparei com No me cuentes tu vida nas mãos. A sinopse dizia tudo García Montero nos ofrece la historia de tres generaciones; la que sufrió el exilio tras la guerra, la que protagonizó la Transición y, finalmente, la de los que se enfrentan a un futuro incierto a causa de la crisis.Seis meses depois, custa-me admitir que as 459 páginas da sua narrativa tornam-se bastantes vezes algo repetitivas, maçudas. Os assuntos que a suportam (as referidas três gerações) são, no meu ponto de vista, demasiado mastigados, o que faz com que a trama (onde também não abundam os diálogos) não avance, se assemelhe a um novelo que parece não ter fim…
Contudo, nem tudo é negativo. Tenho que admitir que o estilo do autor é cativante, que a sua linguagem é própria de alguém com antecedentes poéticos (García Montero é sobretudo conhecido como poeta) e que as inquietudes, as dúvidas, as opiniões, as experiências de vida de Juan Montenegro são muito pertinentes, sobretudo aquelas que apontam para o caminho que é mencionado no excerto que abre esta opinião – o distanciamento entre gerações resultante de momentos e experiências díspares só agravará a crise que estamos vivendo e não está a trazer nem trará nada de positivo para ninguém. Há que aproveitar a experiência, o saber e os ensinamentos dos mais velhos para que a luta, a batalha contra a estagnação e a perda de valores que caracterizam o presente ganhe com isso. Mas também é necessário compreender que os ideais que regiam os batalhadores do passado terão que adaptar-se aos tempos e aos modos de ver a vida dos tempos que correm.
Resumindo, a minha estreia no mundo literário de García Montero não cumpriu plenamente as expetativas. Contudo, isso não significa que não voltarei a tentar e não siga com vontade de ler a obra dele que tenho na “wishlist” – Alguien dice tu nombre.
Resta-me dizer que em casa dos García Montero/Grandes, ela (Almudena Grandes) escreve bem melhor J

NOTA – 07/10

Sinopse
«No me cuentes tu vida», una frase con que los jóvenes han callado a sus padres cuando éstos trataban de aportarles su experiencia. Ramón, un joven de veintitrés años, se enamora de Mariana, la joven rumana que trabaja para su familia. Tras descubrir la sorprendente relación, Juan, el padre de Ramón, decide escribir su hist oria para encontrar en el pasado un punto de unión con el presente. García Montero nos ofrece la historia de tres generaciones; la que sufrió el exilio tras la guerra, la que protagonizó la transición y, finalmente, la de los que se enfrentan a un futuro incierto a causa de la crisis. Un canto a la memoria y al amor que refleja los confusos tiempos que nos ha tocado vivir.

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