Segunda-feira, 29 de junho de 2015
Opinião
O primeiro contacto que tive com
Patrick Modiano – o mais recente prémio Nobel da literatura – foi no mínimo
desconcertante. Após ter lido as últimas linhas de Um circo que passa, fechei o livro e dei comigo a dizer – “É
só isto?”; “Li 133 páginas e voltei à estaca zero?”; “Continuarei a conhecer
das personagens exatamente o mesmo que conhecia quando li as primeiras páginas,
ou seja, quase nada?...” Magnífico exemplo de uma narrativa aberta… Mais não
poderia ser…
Sendo assim, o sentimento que me
domina neste momento é de frustração e alguma revolta. Porque queria mais,
porra! “Papei” a obra em menos de 24 horas sobretudo porque a sua narrativa me envolveu
desde o início, por ser realmente enigmática, misteriosa e enganadoramente
simples. Simpatizei com as personagens principais (os jovens Jean e Gisèle),
admirei a forma como o autor nos vai oferecendo pistas, dados para que os
conheçamos cada vez melhor, mas tudo desabou quando o desenlace não nos
proporciona as respostas que tanto queremos – quem é na verdade Gisèle?; Por
que se acercou a Jean?; Que contêm as malas que ela leva consigo?; Que é que
sucedeu para que Jean, um miúdo de 18 anos, viva num apartamento decrépito, na
companhia de um amigo de seu pai e esteja separado de seus progenitores, um
refugiado na Suíça e outro a viver no Sul de Espanha?; Quem são os homens com
quem Gisèle se relaciona? Enfim, são muitas (demasiadas, até) as perguntas que
ficam sem resposta…
A única explicação que me ocorre e que
poderá minimizar o desconcerto e a frustração que reinam por estes lados será
relacionar o título da obra com o seu recheio, ou seja, a semana que
acompanhamos das vidas de Jean e Gisèle tem na vida do leitor o impacto que tem
um circo que passa, um circo que entra na nossa rotina por um punhado de dias e
se vai tão rapidamente como veio. Sem nos dar tempo para entabularmos conversa
com os seus elementos, para saber mais sobre eles. Atraem-nos com as suas
façanhas, com o seu estilo de vida diferente, mas dificilmente conheceremos
quem está por detrás de uma máscara de palhaço, quem se equilibra num fio a
vários metros acima do solo ou quem maneja com toda a mestria uma manada de
animais perigosos.
Contudo, por mais que a explicação
faça todo o sentido (no meu ponto de vista), a frustração ainda não desapareceu
e talvez retraia a vontade que tinha de comprar mais obras de Patrick Modiano…
Let’s wait and see…
NOTA – 06/10
Sinopse
Um Circo Que Passa revela
bem o estilo de Patrick Modiano, fortemente marcado pela guerra, pelos anos 40
e pela sua própria infância.
A polícia, os bares duvidosos e as ruas de uma cidade simultaneamente amiga e inimiga - é nesta Paris dos anos 60 que acompanhamos a fuga e as deambulações de um casal à procura do amor. Uma história que tem como narrador Jean, e em que toda a ação gira em torno do seu relacionamento, aos dezassete anos, com a misteriosa Gisèle. Ambos têm muito a esconder um do outro. Partilham, porém, os mesmos sonhos.
A polícia, os bares duvidosos e as ruas de uma cidade simultaneamente amiga e inimiga - é nesta Paris dos anos 60 que acompanhamos a fuga e as deambulações de um casal à procura do amor. Uma história que tem como narrador Jean, e em que toda a ação gira em torno do seu relacionamento, aos dezassete anos, com a misteriosa Gisèle. Ambos têm muito a esconder um do outro. Partilham, porém, os mesmos sonhos.
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